quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O jogo da paciência

Não dá para dizer que Tiago Splitter esteja tranqüilo. Na entrevista ao Bala na Cesta na noite desta terça-feira, ele repetiu algumas vezes a palavra paciência, que é o que ele mais precisa no momento em que pouco atua no San Antonio Spurs. Sem mais delongas, confira o papo com o pivô do time texano, que não gosta nem de falar que a lesão na pré-temporada o prejudica agora na obtenção de mais minutos em quadra (“Isso já passou, não tenho como ficar pensando nisso. Tenho que ficar de olho no presente”).

BALA NA CESTA: Hoje será o primeiro jogo seu que será transmitido para o Brasil (às 23h30 pela ESPN Internacional). Está ansioso para o duelo contra o Denver, do Nenê?
TIAGO SPLITTER: Acho que vai ser um jogo legal, principalmente porque na semana passada não pude enfrentar o Nenê porque estava com uma dor na virilha. Se tiver a oportunidade de entrar em quadra será uma emoção legal, e espero que aí no Brasil as pessoas acompanhem.

-- Falando em entrar em quadra, este seu começo tem sido um pouco difícil, não?
-- Sim, tem sim. A palavra-chave para mim agora é paciência, até porque não tenho outra opção. A palavra número 1 é paciência, a dois também, a três idem, a quatro a mesma coisa. Não dá para chegar aqui, na NBA, e chutar o balde, né. Não estou acostumado a ficar tanto tempo de fora, mas faz parte do aprendizado, e tenho certeza que estou no caminho certo.

-- Você esperava que fosse ser tão complicado assim?
-- Cara, vou te ser sincero. Quando vim pra cá, muita gente dizia: “Tiago, esse primeiro ano vai ser ingrato para você. O Oberto veio da Europa e ficou uma temporada no banco antes de ter papel fundamental no título do Spurs no ano seguinte”. E não é que eu não acreditava, mas é que você quer que só passem coisas boas contigo, né. Mas aconteceu isso com o Manu Ginóbili, com o Fabricio Oberto e está acontecendo comigo. É preciso ter paciência, calma, perseverança. Já deu para sentir algumas diferenças entre o jogo da Europa e o daqui, principalmente em relação às arbitragens. No jogo de mano a mano daqui não é permitido tanto contato como é na Europa, e as coisas tornam-se mais difícil. Aqui a palavra é posicionamento. E aqui todo mundo sabe jogar, todo mundo se destaca, todo mundo mata bola. É impressionante!

-- Lembro que no primeiro ano do Manu ele dizia que treinava individualmente mais do que todo mundo. Também acontece com você?
-- Treinos individuais são a minha rotina diária. Aqui no San Antonio há dois técnicos que trabalham diretamente comigo, me ensinando as rotações de ataque e defesa e aprimorando a minha parte técnica. Além disso, minha mecânica de arremesso está mudando um pouco. Não dá para explicar muito bem, mas o meu chute vai acabar se modificando. Estou treinando como nunca treinei, com muita atenção dos treinadores, e o (Gregg) Popovich (o técnico) tem visto isso tudo.

-- Falando em Popovich, muita gente no Brasil tem criticado o cara porque ele não te dá tempo de quadra.
-- Não, não é correto isso. Ele tem quatro títulos da NBA, estamos com a melhor campanha da liga e estou me adaptando aqui. Ele fez assim com o Manu, com o Oberto e com tantos outros, e acho que faz parte da maneira como ele trabalha. É preciso respeitar, entender e procurar seguir o que eles estão preparando para mim por aqui. O Popovich é um cara que está sempre preocupado comigo, me pergunta sobre tudo, quer saber se estou me sentindo bem. Não posso reclamar de nada.

-- Você também concorda com a tese (estou incluído aí) de que mesmo com pouco tempo de quadra você não tem rendido bem?
-- Acho que não poderia ser muito diferente. No Baskonia, todas as jogadas passavam por mim, e a maioria era eu quem tinha que decidir. Aqui, sou coadjuvante, os papéis mudaram, tudo mudou. Está sendo complicada essa transição, mas sei que em dois, três anos poderei ter um papel de destaque na equipe, com jogadas desenhadas para mim, por exemplo. Neste momento que o time está ganhando, só penso entrar e continuar mantendo a boa fase da equipe.

-- Dá para dizer que o Manu Ginóbili tem sido uma espécie de irmão mais velho por aí? E seu antigo tutor na Espanha, o Iñaki Iriarte, tem conversado com você?
-- Sobre o Manu, não tenho palavras para descrever o que ele tem feito por mim. Ele me passa boas energias, dá conselho, me mostra muita coisa. É um grande amigo e o respeito muito. Sobre o Iñaki, temos conversado muito, sim. Ele é experiente, entende do jogo, sabe o que estou passando aqui e sempre me recomenda ter paciência.

17 comentários:

Fábio Carvalho disse...

Sublime entrevista! Ótimas perguntas e excelentes respostas!
Parabéns, xará!
Abraço!

Adriano disse...

Excelente entrevista, Bala, uma das melhores que vc já fez. Impressionante a franqueza do Splitter neste bate-papo, nunca o vi tão aberto, admitindo seus sentimentos em relação ao que ele esperava que seria a NBA e como é sua rotina. Está de parabéns. Até desisti de escrever sobre essa primeira transmissão pela TV de um jogo do Splitter na NBA, este post já é uma baita duma apresentação.

jonathas disse...

tem cabeça boa demais o splitter...
continue assim q vc vai longe!

Anônimo disse...

Putz, que entrevista,

Parabéns Bala. Acredito ainda no Splitter na NBA, mas acho que as coisas estão mais difícil do que se imaginava. Sinceramente, pensava que ele ia ganhar minutos paulatinamente, mas não é isso que está acontecendo. Se não está jogando agora o que nos leva a acreditar que jogará nos playoffs, quando o técnico precisa confiar cegamente no cara? Mas desejo toda a sorte do mundo para esse cara e só espero que ele não seja influenciado pelo Pop sobre defender a seleção, afinal, todo mundo sabe o que o Pop pensa sobre isso.

Parabéns de novo Fábio
Abraços,
Gustavo.

Anônimo disse...

po, teu blog tá com um nível altíssimo... continue assim fábio!

boa entrevista!

Anônimo disse...

Não custa repetir:

Que fase ein, Bala.

Parabéns a vc e muito sucesso ao Thiago que ja descobriu o caminho das pedras.

Abs

Alexandre Reis

Anônimo disse...

Excelente, Bala. Excelente. Perguntas fora da mesmice: Adaptacao, clima e aquelas coisas que parecem revista de fofoca.

Perguntas somente sobre o que o blog cobre: basquete e mais basquete.

Anônimo disse...

Excelente, Bala. Excelente. Perguntas fora da mesmice: Adaptacao, clima e aquelas coisas que parecem revista de fofoca.

Perguntas somente sobre o que o blog cobre: basquete e mais basquete.

Anônimo disse...

Splitter tem base familiar, pai e mãe muito presentes so pode dar uma pessoas de boa indole como ele.

Alone A. disse...

Nossa que bacana essa entrevista , muito legal mesmo o Splitter mostra que não só é um grande atleta mas também um grande homem , dá muito orgulho que um cara tão profissional é brasileiro ! Parabéns pela bela entravista !!

joao disse...

" Não, não é correto isso. Ele tem quatro títulos da NBA, estamos com a melhor campanha da liga e estou me adaptando aqui. Ele fez assim com o Manu, com o Oberto e com tantos outros, e acho que faz parte da maneira como ele trabalha. É preciso respeitar, entender e procurar seguir o que eles estão preparando para mim por aqui. O Popovich é um cara que está sempre preocupado comigo, me pergunta sobre tudo, quer saber se estou me sentindo bem. Não posso reclamar de nada."


PROS CHATOS PATRIOTAS! hahahaha

Anônimo disse...

Caramba a cada dia so mais fã do Tiago e do Spurs!

fábio balassiano disse...

a todos aqui, meu muito obrigado pela entrevista
acho que o papo ficou legal mesmo (e pra eu admitir isso é difícil pacas!)

agradeço mesmo pela educação de vocês.

Abs, fábio

Giuliano disse...

Show de bola, como sempre. Esse aqui é o melhor blog de basquete do Brasil.
Parabéns, Bala!
Abraço!

Heber Costa disse...

Bala, muito boa a entrevista. Tocou até no ponto delicado do rendimento dele. Acho que as respostas dele foram muito lúcidas, apesar da agonia que ele deve estar sentido por jogar pouco.

Ele foi especialmente feliz em apontar que as jogadas não são desenhadas para ele. Eu diria que até o próprio Tim Duncan não está mais sendo o foco da maioria das jogadas ofensivas. Basta olhar como a média de pontos dele diminuiu (14,1 por jogo, a menor da carreira), e não é porque ele está chutando mal (pelo contrário, seu FG é 50%), é porque está chutando menos (11,7 tentativas por jogo, também a menor média da carreira).

Enfim, parece que o próprio San Antonio mudou seu estilo de jogo para se apoiar mais nos guards: Ginobili e Parker (FG 52%!) têm mais pontos nesta temporada (1016 pts.) do que Duncan, Jefferson e Blair juntos (951 pts.). Pensando na trajetória dos Spurs, que teve pivôs all-star por duas décadas, é uma mudança histórica (e tem funcionado).

Pode ser que isso não seja bom para Splitter, que entra agora num sistema de jogo em que ele vai ter que contribuir mais defensivamente e buscar rebotes ofensivos para se destacar.

Claudia disse...

Ola Bala uma bela entrevista.
Conheco o Tiago desde crianca jogando nas categorias de base,
Me orgulho muito desse Homem que a poucos anos atras era um menino que nos deixou o Brasil em busca do seu sonho NBA. Esse menino e um grande HOMEM. Valeu Tiaguinho.

Claudia Joinville

Anônimo disse...

Fala Bala

Me diz uma coisa, que vc acha do Splitter passar um tempinho na D-League, pra pegar mais o ritmo de jogo da NBA?