

MARLON: Nossa, minha vida começou muito cedo no basquete. Aos 10 anos estava dentro da Escolinha do Moto Clube com o técnico Leal, mas por dificuldades financeiras eu tive que parar de jogar. Minha mãe e meus avós ainda tentaram ajudar (nessa época meu pai acabara de perder o emprego em uma fábrica local), mas não foi possível continuar naquele momento. Somente aos 14 anos voltei a jogar em uma colônia de férias do Maranhão. Conheci um treinador chamado Carlão (Carlos Tinoco Silva), que fez uma pergunta que mudou minha vida. Ele disse: “Você gosta de basquete? Então não desista”. Respondi que sim e jamais desisti. Fiquei quatro anos em São Paulo, e você deve imaginar como é complicado sair do Maranhão para a maior metrópole do país. Era um menino humilde e tímido numa cidade imensa. Não foi fácil, mas aprendi a me virar e aos poucos as coisas foram acontecendo. Até que recebi o convite para vir estudar nos EUA. Tive apenas um dia para me despedir dos meus familiares e namorada e estou aqui há quase sete anos sem vê-los. Tinha muito medo, mas minha vontade de vencer sempre superou isso tudo. Agradeço desde já ao Walter Roese (agora assistente-técnico da Universidade do Havaí), que me ajudou muito desde que por aqui cheguei.
-- Vindo de uma família muito humilde, foi muito diferente para você chegar para jogar em Junior College nos EUA? A estrutura, a língua, os treinos, tudo é muito diferente, não?

-- Tudo é diferente por aqui, cara. Quando cheguei aqui para jogar no Junior College (Midland College) fiquei assustado com o que a garotada tem em termos de estrutura. Ginásio, comida, hábitos, vestimenta, tudo é muito incrível. Eles fazem as coisas com prazer e uma paixão enorme. Isso é fascinante. Nos primeiros dois anos entender todo este processo foi complicado, pois além da barreira cultural eu tinha o problema da língua. Você pode imaginar como foi difícil me comunicar apenas com gestos e sinais (não sabia nada de inglês). Durante seis meses fiquei louco, chorava muito, até que liguei para o Roese e disse que não agüentava mais. Depois de conversar com ele rezei um pouco e pedi paciência. Pensei em meus familiares e amigos, e sabia que se voltasse assim, sem ter tentado, estaria desapontando a eles. Por isso me mantive, mesmo sofrendo horrores e transparecendo isso (meu técnico chegou a dizer que entendia meu sofrimento). Ali fiquei mais confortável e meu talento começou a aparecer, com atuações defensivas muito boas. Foi esse prazer de competir em alto nível no basquete americano que tirei como exemplo para eu nunca desistir dos meus sonhos.

-- Eu fiquei um ano sem jogar (redshirt, como os norte-americanos chamam) e minha experiência como calouro foi muito boa. Tive uma produção sólida e consegui ajudar o time a chegar ao título da Sun Belt Conference. Comecei no banco, mas como jogador defensivo no garrafão eu me saí muito bem. Minha expectativa para o próximo ano, o último em Arkansas Little Rock, é de tentar colocar meus números de rebotes e pontos um pouco maiores e ficar bem melhor fisicamente. Este ano foi uma experiência pra mim como jogador, e tenho certeza que no próximo serei mais cobrado pela comissão técnica. Por ser meu último ano, minha obrigação é ser exemplo para os jogadores que estão chegando e se conseguirmos voltar ao Torneio Nacional, melhor ainda.
-- Mesmo atuando fora do Brasil há muito tempo, você sente vontade de atuar pela seleção brasileira? Gostaria de ser lembrado e atuar pelo seu país?

-- Sim, gostaria muito de ser lembrado para a seleção. É um grande sonho jogar pelo meu país e também poderia representar o Nordeste e o meu Estado (o Maranhão). O basquete da nossa região precisa de ajuda, porque acho que há muitos talentos por lá. Gostaria de chegar à seleção também para ser um exemplo e uma motivação para essa molecada que luta por oportunidades por lá. Acho que nunca o Maranhão teve um jogador na seleção masculina (sei da Iziane entre as meninas), e se conseguisse isso seria um presente para o povo de lá, que sei que ama basquete.
-- Depois de se formar, o que você planeja para a sua carreira? Pretende continuar no basquete?
-- Bem, vou dizer uma frase que minha família me ensinou quando era garoto: “O dia de amanhã a Deus pertence”. Mas tenho planos de terminar meu mestrado aqui nos EUA. Depois que me formar penso em continuar jogando, porque jogar basquete é uma paixão muito forte. Acho que o basquete é minha primeira mulher (risos). Sinto-me muito bem jogando basquete e quando estou em quadra apenas penso em jogar bola e me divertir. Sou outra pessoa em quadra.
BATE-BOLA

Uma frase: “Deus, sempre acompanhe meus passos”
Uma palavra que odeio: Traição
Um ponto que tenho que melhorar em quadra: Minha regularidade
Uma qualidade fora de quadra: Amigo
Um defeito: Me preocupo demais
Uma mania: Fazer tudo perfeito
Um sonho: Vencer na vida.
Uma cidade: São Luís
Um ídolo: Eminem
Um lugar: Maranhão
Uma comida: A da minha família
Quando penso no Brasil, penso em: Oportunidades pras pessoas
Das coisas do Brasil, sinto mais falta da: Comida
Um livro: O segredo
Um filme: Homens de honra
Uma música: Dias de luta, Dias de Glória (Charlie Brown)
Um amigo: Carlos Tinoco Silva (Carlão)
Um momento triste: Perder meus avós e não poder estar lá com eles
Um momento feliz: Quando fui campeão aqui nos EUA
Um técnico: Walter Roese
14 comentários:
bala, desculpe o palavriado, mas merece: DO CARALHO!
esse menino é campeão. campeão na vida, onde realmente importa. dane-se o basquete.
parabéns, marlon, você venceu! parabéns, bala, por nos mostrar uma história tão linda.
guilherme
parabens garoto, você é um vencedor!
que deus continue te iluminando!
você merece
bala, sem palavras!
melhor blogueiro do brasil!
heitor
Que história maravilhosa! Parabéns ao Marlon e a vc pela entrevista, Bala!
Ah, e eu tava certo, ele e a Marlianne realmente são irmãos... hehehehehehe
parabens ao Louzeiro!
Walter Roese tambem!
o cara ja é um campeão... humildade em primeiro lugar, vc ainda vai longe...
Como maranhense q cêdo deixou a terra entendo o que significa "subir montanhas" em busca de um sonho.Não lhe ví jogar ainda mas, vc tem bastante equeilíbrio moral e emocional para merecer a Seleção do Brasil, nosso País. Neste momento em que estrelas se negam a colocar a nossa camisa e nos colocam de joelhos a seus pés, pessoas com o seu caráter deixam os brasileiros com uma sensação de Unidade Nacional. Vc se faz merecer.
O Blog tb é nota dez abrindo essa vitrine com tal criatura.
Luiz
pessoal, obrigado pela força.
sta ignorância, você está sempre certo...
abs, fábio
Uma pena que incentivo por aqui seja inexistente. Realmente uma pena! O fato positivo é que, mesmo assim, cada vez mais nordestinos têm conseguido tais oportunidades e com êxito (vide JP Batista). Outro fato legal é o suporte e monitoramento do W. Roese para com esses atletas.
Abs!
O que me impressiona é saber que temos tantos garotos com potencial e que gente sem escrúpulos engolem seus sonhos e oportunidades minimizando suas chances de sucesso. Parabéns ao Marlon, grande garoto e exemplo de que a vontade supera a falta de estrutura que nosso basquete vem passando. Tive a oportunidade de jogar contra ele em São João da Boa Vista e na época já incomodava demais.
É uma pena q uma pena q nossas crianças tenham q sair do país atrás de ensino.
Marlon é um que deu sorte de nascer com um talento q lhe proporcionou crescimento.
Os outros brasileiros q não tem talento para o esporte continuam abandonados pelo poder público.
Parabéns ao marlon que soube perserverá e correu atrás de seus sonhos com muito trabalho.
Já é um vencedor como muitos disseram aqui, mas ainda chegará bem mais longe, seja jogando bola ou não.
Parabéns pela nova seção do blog Bala.
Temos muitos talentos tentando a sorte e buscando seus sonhos em algum país que lhes dá a oportunidade.
Vlw!
Parabéns Bala.
Acho que quem deveria se preocupar em monitorar estes talentos são os clubes brasileiros.
Mesmo que eles não sejam "super-stars" poderiam ser muitissimo uteis aqui no basquete doméstico!
Para isso, existe a necessidade de se melhorar ( e muito ainda!) as condições. Muitos destes jovens preferem largar o basquete e arrumar um emprego nos EUA do que voltar para a insegurança do nosso basquete.
Abraços.
Luiz
qndo se quer vc se adapta a qualquer lugar
mtos jogadores de futebol podem aprender com ele
Humildade e confiança, continua assim que vc vai longe Marlon!!!
Meu irmao .... meu heroi...
Parabens Brother vc merece....
Obrigado pela materia Fabio realmente mto linda...
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