

JULIO LAMAS: Sim, você tem toda razão. Estou trabalhando com o Obras há menos de dez meses, e os resultados estão vindo muito mais rápido do que eu e os dirigentes esperávamos (pensávamos em troféus apenas em 2012 para ser sincero). Hoje foi uma partida muito dura, mas conseguimos nos impor nos momentos importantes. Tínhamos um plano, que era marcar o Shammel e o Marquinhos, e seguimos isso à risca. Meus times são sempre assim: defendemos demais, trocamos muitos passes no ataque e erramos muito pouco. No Obras não é diferente e o troféu nos dá confiança para brigar pelo título nacional na Argentina.

-- Sim, mas ela está diminuindo. Até pela mudança na regra do tempo de posse de bola (30 para 24 segundos), não é mais possível fazer aquele ataque muito controlado. A defesa por aqui melhorou um pouco, e cito o Alex como principal exemplo disso, mas é muito claro que vocês, brasileiros, são ainda muito mais adeptos às bolas de três do que nós. Creio que o basquete argentino tenha uma característica de trocar mais passes, buscar a melhor oportunidade no ataque, e isso faz com que todo o contexto tático se modifique. Também poderia falar da leitura de jogo e das defesas, que são mais fortes no meu país, mas você deve ter visto como os jogos do Interligas foram disputados até o final. Não houve moleza, e acho que o nível da competição foi mais duro até do que a Liga Sul-Americana.
-- Uma das maiores críticas que fazemos por aqui é sobre o nível dos nossos técnicos. No NBB já há dois técnicos argentinos inclusive, mas lá no seu país não há nenhum brasileiro no comando. O que você conhece dos nossos treinadores? Você já recebeu proposta para trabalhar aqui?
-- Nunca recebi proposta, mas é algo que olho com carinho, sem dúvida alguma. Até 2012 eu penso no Obras Sanitarias apenas - depois, quem sabe. No mundo globalizado, a tendência é sempre haver essa troca de experiências, não? Há engenheiros brasileiros trabalhando em Buenos Aires, há técnicos argentinos trabalhando aqui. Conheço o trabalho do Hélio Rubens, que sei que é brilhante, e sei que há novos que estão surgindo muito bem (o Demétrius é o melhor exemplo).

-- De verdade não há arquitetura alguma de minha parte. Rubén Mangnano, Sérgio Hernández e eu tivemos a felicidade de trabalhar com essa geração maravilhosa, e cada um teve a sua parcela de "culpa" pelo sucesso da equipe. Eu só tive a sorte de começar e dar a chance para a maioria deles - e eu tinha 32 anos, hein. A verdade é que está sendo bastante emocionante representar o meu país de novo, e me dignifica bastante ser o treinador que estará com aqueles rapazes (Ginóbili, Luis Scola e Nocioni) no final de suas carreiras na seleção. Tenho certeza que será um momento lindo no Pré-Olímpico, e me sinto mais do que um privilegiado por estar ali para comandá-los. A seleção argentina é a equipe mais importante que já dirigi em toda a minha vida, e tenho a honra de pode estar no comando novamente.

-- O caso do Oberto é clínico. Se os médicos de Portland e da Argentina o liberarem para jogar, ele estará em Buenos Aires. Se não, não há condição. Em primeiro lugar está a pessoa, não há como fugir disso. Mas a atitude dele é absolutamente louvável em querer representar o país. Tenho sete pré-convocados (Prigioni, Ginóbili, Delfino, Scola, Nocioni, Jasen e Leo Gutierrez), e se o Oberto estiver disponível ele tem vaga cativa no time.

-- Olha, essa é uma situação difícil, sem dúvida, mas só peço que a opinião pública não seja tão dura com os jovens que estão surgindo, e te explico o motivo. Manu Ginóbili foi o melhor ala-armador da história do país. Quem foi o segundo? Carlos Delfino. O maior ala? Andrés Nocioni. O ala-pivô? Luis Scola. O pivô? Rubén Wolkowyski e Fabricio Oberto. Todos eles vão parar com a seleção depois de 2012, e obviamente o nível deve cair um pouco. Quero muito que a imprensa e os torcedores não depreciem o trabalho dos que estão surgindo, porque eles não têm culpa de aparecerem logo depois da melhor geração da história do basquete do país.
8 comentários:
Renovação é a palavra da hora e Lamas tem que ser responsável por ela..ele pode ser o artífice da renovação da geração dourada para os novos jogadores...assim como Magnano deve fazer no Brasil a mesma coisa.
Não podemos esquecer que a situação do basquete no Brasil é hoje a mesma que passou pela Argentina nos anos 80.É urgente a aparição de novos jogadores nos dois paises.
Melhor entrevista que você já fez, bala!
Pega esse trecho em que ele fala sobre Seleção e dá pro leandrinho!
Parabéns!
Sensacional de ler!
Augusto
Bota essa entrevista num quadro!
Parabéns!
Lamas sabe tudo!
Yuri
Muito boa entrevista!!
genial,
belas perguntas
respostas sábias
parabens
Rossi, traz o Lamas em 2012! haha
Melhor ala-armador não, pô!!! O Ginobili é o maior jogador do hemisfério sul em todos os tempos!!!
po bala, chamou o cara de louco?
Ah verdade é q a situação Argentina para o futuro é realmente um pouco preocupante..ñ se vê mtos jogadores de nível internacional surgindo.E o tempo da geração de ouro definitivamente está em seu fim.
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