terça-feira, 23 de março de 2010

Ele está de volta - Parte 2

Perdeu a primeira parte da entrevista com Marcel? Então clique aqui e leia.

BALA NA CESTA: Uma das grandes críticas que se faz a você é sobre o sistema de triângulos – que você adota. Como você reage a isso? É possível, mesmo, utilizá-lo no Brasil, com jogadores menos hábeis que os da NBA?
MARCEL: Em palestra que dou sobre o ST (Sistema de Triângulos) eu desenvolvi uma fórmula matemática que explica, aos indivíduos lógicos e concretos, essa maneira de jogar. Nessa fórmula aplico uma constante que denomino TW (em homenagem a Tex Winter, é claro), que representa o nível técnico individual de cada jogador. Quanto maior a TW dos jogadores em quadra, maior o nível técnico da equipe e melhor é jogado o ST. Isso não quer dizer que o ST não possa ser jogado em qualquer nível, mas que é muito mais fácil utilizá-lo na NBA, ou na nossa seleção, do que noutro lugar qualquer. O ST libera a criatividade e o instinto do jogador de basquete brasileiro dentro de um padrão de jogo que é praticamente indecifrável pelo adversário e isso é uma arma que desprezamos quando tentamos “imitar” espanhóis, argentinos e afins apenas porque atualmente estão na nossa frente. Interiormente o brasileiro sempre foi um incorporador e transformador de culturas. Todos os que nos tentaram colonizar se deram mal por insistir em incorporar suas tradições entre nós. Assim vimos espanhóis, franceses e holandeses, entre outros, chegarem e partirem sem nos deixar vestígios. Só os portugueses, que se misturaram conosco, sobreviveram como cultura, se é que nessa mistura entre português, indígenas e negros possamos identificar traços básicos da cultura portuguesa, o que sempre foi uma grande vantagem para nós em qualquer lugar do mundo. No basquete, entretanto, caminhamos no sentido da aculturação reversa, onde nos anulamos como indivíduos criativos e instintivos em busca da imitação de um resultado conseguido por países de outra cultura e personalidade. Nos intimidamos pelos resultados dos outros e nos limitamos, ao invés de transformarmos os conceitos de nossos adversários dentro nossa cultura, como fazemos há mais de quinhentos anos.

-- Outra crítica que te fazem é sobre você ser um pouco “alheio” ao que acontece nos seus times, adotando uma postura menos participativa do que a que um técnico sugere. Como você reage a isso?
-- Os anônimos de plantão, que escrevem na sua caixinha, são excelentes fontes de inspiração, que nos fazem pensar se estamos no caminho certo, ou não. Quero agradecê-los pelas críticas e dizer-lhes que sei muito bem separar o ranço que trazem consigo das opiniões que emitem, pois só reconhecemos nos outros o que temos dentro da gente. De qualquer maneira não deixa de ser uma grande homenagem ver que minhas atividades são comentadas por muitas pessoas, enquanto outras notícias, entrevistas e fatos passam batidos. Obrigado a todos. Mas, voltando à pergunta, quem joga o jogo é o jogador. Por mais redundante que isso possa parecer, o técnico não pode ser como um jogador de vídeo game, com cinco joysticks e três botões (um para cada ação): passe, drible e arremesso. Às vezes os jogadores querem soluções liofilizadas ou consagradas pelo uso às suas dúvidas e nos fazem perguntas que vão do “e se acontecer isso, o que eu faço?” até o tradicional “daqui eu vou prá onde?”. Os técnicos, portanto, sentem-se no direito de interferir em todas as decisões dos seus jogadores e a minha recusa em fazê-lo causa espécie e comentários desse tipo, pois a grande maioria deseja ser controlado por, ou controlar um joystick com seus botões. Todo poder circula e é melhor ser um conselheiro do que um ditador das quadras. Ora, eu sou a favor do ensino diferenciado do entendimento e da leitura do jogo e isso significa, entre outras coisas, dar autonomia total aos jogadores no jogo. Sei que tal escolha não é fácil, e com certeza passa por uma impressão “alheia e menos participativa ao jogo”, mas sou seguro que é a solução mais apropriada para o desenvolvimento pleno do nosso basquete.

-- Por fim: seu projeto de ser técnico da seleção brasileira ainda está de pé, não?
-- “Los sueños, sueños son”, mas depois dos últimos acontecimentos políticos, começo a acreditar que o basquete brasileiro está cada vez mais fora das quadras, onde realmente eu tenho muito que aprender.

18 comentários:

maguro disse...

Confesso que nunca vi um time comandado pelo Marcel jogar. Mas devo dizer que conceitualmente esse conceito apresentado por ele de 2 triângulos e o porque dele são bastante interessantes, a explicação/defesa de tese é fantástica, de tirar ao chapéu.

maguro disse...

erro de PT "conceitualmente o sistema apresentado"

João Alexandre Pinheiro disse...

De quem muito fala, como o Marcel, se exige muito.

Observo de longe se se dará a conversão de um crítico em um bom treinador.

É um alento quando isso acontece, como com o Paulo Murilo.

Mas é decepcionante quando tudo que resta é uma grande língua.

Anônimo disse...

Acho Marcel dos caras que podem falar com responsabilidade, várias coisas. Afinal, por muitos anos serviram ao basquetebol e ajudaram dentro de quadra nosso esporte. Tem conhecimento e estuda muito pelo que sempre diz para ser técnico bem sucedido e tenta inovar dentro dos conceitos que acredita, o que sempre é muito bom também.

Porém não curto muito quando ele faz críticas como fez ao Magnano ou mesmo aquele funk. Nestes casos, achei um exagero que um cara do nível do Marcel não precisa fazer. Nestas duas vezes, Marcel poderia ter feito críticas mais construtitivas e menos ácidas.

O funk então é deplorável.

Como técnico, torço e espero que ele faça um bom trabalho e consiga bons resultados, que também são importantes,claro, dentro do que o time pode oferecer também !

Se Marcel com o triângulo ofensivo, Professor Paulo Murilo com o sistema de dois armadores/três pivôs movéis, Magnano na Seleção utilizando um sistema que pode ser o Flex Offense que utilizou na Argentina, por exemplo, teremos em pouco mais de 5 meses, vários conceitos novos para nós que estamos tão acostumados com a padronização de jogo em solo brasileiro.

Quem vence é o basquete e quem pode assistir e estudar tudo isso.

E torço para que o Marcel continue tranquilo, calmo, focado nos treinamentos da sua equipe e ajude mesmo o basquetebol dentro de quadra, onde ele tem muito o que nos passar. E quando for criticar, que não faça funk ! Seja mais sereno, porque quando Marcel fala com mais tranquilidade, normalmente ele realmente acerta várias cestas.

Boa entrevista Fábio, ficou muito interessante, parabéns !

Agora é acompanhar !

fábio balassiano disse...

valeu, henrique!
fábio

Rogerio Matos disse...

Fala Fabio e leitores.
Estou de acordo com os comentarios ai em cima. Na entrevista o Marcel monstrou-se muito bem embasado e até com formulas para explicar o sistema dos triangulos. Acho isso o maximo. Desejo muito sucesso para ele no Barueri. Pelo que li tambem, ele tem uma visao moderna do basquete, um bom ponto de vista sobre a preparacao fisica e um trato mais ''pedagogico'' diria quanto a funcao de tecnico na hora do jogo.Nao que ele nao faca nada e por isso nao estou 100% de acordo, pois algumas intervencoes no decorrer do jogo sao fundamentais. O tencino é tambem o lider fora de quadra, e as vezes todos os jogadores nao conseguem essa leitura de jogo para superar as adversidades. Claro que nao precisa ser tambem do estilo do ex-tecnico do Assis.... Enfim, estou muito ansioso para ve-lo em quadra!
Quanto ao Paulo Murilo, outro excelente treinador, estudioso e dedicado, ainda promete muitas surpresas ate o final do campeonato, como foi contra o Brasilia.
Gostaria de uma informaçao:Essa entrevista foi feita pessoalmente ou por internet?

Sorte e forte abraco

fábio balassiano disse...

fala, rogério. obrigado pela força
foi por email mesmo.

fábio

Anônimo disse...

As informações que correm aqui em SP são que ele conhece muito dentro de quadra e que a cada dia vem fazendo com que a equipe jogue um basquete moderno e objetivo, quanto a ele estar na seleção brasileira apesar do Carlos Nunes ter prometido isto e não cumprido acho que precisa de mais um pouco de estrada, mas como hoje na cbb é ação entre amigos, o Demetrius começou ontem e ja é tecnico da sub-16.

Guilherme disse...

Só fico um pouco incomodado quando ele fala em "imitar" espanhol ou argentino porque estão tendo resultados melhores. Vejo que o Brasil busca profissionais/conceitos desses países porque estão de fato mais avançados dos que os até então praticados aqui, o que aliás é a mesma coisa que faz o Marcel na defesa do sistema de triângulos, que ele mesmo afirma ter buscado no basquete estado-unidense. Porque então isso não seria "imitar" estrangeiro? Não condeno nenhuma das duas práticas, pelo contrário, acho saudável essa tentativa de oxigenação no jogo praticado aqui. Só não concordo que, por enxergar o jogo de modo diferente, o Marcel despreze todas as tentativas de mudança que ocorrem em um sentido diferente da concepção dele.

Guilherme disse...

E acho também que ele, como qualquer outro treinador, deve apresentar trabalhos que o credenciem à Seleção. Não creio que ele tenha qualquer deles no seu currículo

TESTE disse...

Será no minimo interessante ver o trabalho do Marcel implantando o sistema de triangulos em atletas de nível nacional.Posicionar qualquer jogador acredito eu que é uma tarefa fácil para qualquer treinador.Mas como ele mesmo disse na entrevista é preciso do jogador muita criatividade e entendimento do que se trata este sistema ofensivo.Mas o que eu gostaria de ver mesmo é como o seu time, Professor Marcel, vai se comportar defensivamente.Seu time também terá liberdade pra criar e inovar no quesito mais fragilizado de nosso basquete?
De qualquer forma,excelente entrevista,Fábio.
Abraços e como fã do seu blog(agora muito "mal-acostumado")espero por mais.

Anônimo disse...

Quais dos integrantes da comissão da seleção masculina, tem título no currículo - como técnico?

José Alves Neto, João Marcelo Leite, Demétrius?

fábio balassiano disse...

valeu, rodaguido.
volte sempre

abs, fábio

Anônimo disse...

Interessante a colocação do Guilherme.

Eu mesmo acho que Argentina e Espanha devem ser analisadas, estudadas e claro, adaptadas para nossa realidade.

Até porque o intercambio com ambos ajudam muito pela lingua e no caso dos hermanos, a distancia.

GUGA disse...

ACHO ENGRAÇADO FICARMOS AQUI DISCUTINDO SOBRE SISTEMAS DE JOGO E SE É VÁLIDO OU NÃO"IMITARMOS" ALGUM SISTEMA DE OUTRO PAÍS.

PODEMOS ADOTAR QUALQUER UM DOS SISTEMAS ABAIXO: POWER GAME, FLEX , PASSING GAME , TRIÂNGULOS, ETC...

QUALQUER SISTEMA CITADO ACIMA NÃO ADIANTARÁ DE NADA SE NOSSOS JOGADORES NÃO TIVEREM FUNDAMENTOS E PRINCIPALMENTE LEITURA DE JOGO. FICO APAVORADO QUANDO VEJO UM TIME DE MINI COM 10000000 JOGADAS E 5 ROBÔZINHOS DENTRO DE QUADRA QUE NÃO SABEM NEM PASSAR A BOLA DIREITO MAS JÁ DECORARAM AS 10000000 JOGADAS PASSADAS PELO SEU TÉCNICO.

O MELHOR SISTEMA DE JOGO É O AMERICANO: DEFESA FORTE + CONTRA-ATAQUE....UM ABRAÇO A TODOS

Anônimo disse...

o Sistema de ataque q o Marcel usa (TW) e' bom, apesar q eu acho q falta um pouco de instrucao do Marcel para os jogadores sobre os pontos fortes de cada jogador. Acredito q assim, durante o jogo cada jogador vai saber tomar decisoes melhores de acordo com uma correta avaliacao das habilidades de cada um (pelo marcel, tecnico). Sobre defesa, o sistema de "defesao" dele funciona, (uma defesa agressiva com a defesa ditando o q o ataque pode fazer), mas precisa se um sistema de rotacao defensiva melhor e mais detalhado (q o Marcel deveria ensinar aos jogadores). Boa sorte ao Marcel!! Um grande tecnico, apesar de precisar melhorar sua habilidade de comunicao com os jogadores e outros profissionais do basquete. Ser inteligente e saber muito significa pouco se nao conseguir passar aos jogadores! Acho q por isso q o Marcel (tecnico) nao eh reconhecido como deveria. Apesar q a arrogancia nao ajuda tb...rsrs... just my two cents.

Anônimo disse...

acho que vc deveria ir ver um treino e um jogo do grb

Anônimo disse...

O Anonimo , ai em cima que sabe tudo,continue com suas sabedorias, vou te dar um toque se me permite, fique amigo dos varejões, e vc vai conseguir uma boquinha no trem da alegria, uma pena que no final dos torneios, como no sulamericano sempre falta alguma coisinha, nisso o netinho e minhoca criada sempre tem uma desculpinha, quanto ao Demetrius, meu DEUS AVE CESAR...