terça-feira, 3 de março de 2009

Um homem de visão - Parte II

Perdeu a primeira parte com Guilherme Giovannoni? Clique aqui antes de começar a segunda então.

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BALA NA CESTA: De todo modo, você esteve naquele que foi um dos maiores vexames do basquete brasileiro, o Pré de Las Vegas. O Brasil conseguiu perder de novo para Porto Rico, houve o incidente com o Marquinhos, aquela atitude deplorável do Nezinho e ainda a derrota final para o time B, ou C, da Argentina. Quais as marcas daquela derrota, e quais as lições?
GUILHERME GIOVANNONI: Acho que o grande problema daquele torneio é que não foram dados papéis precisos para cada um dos jogadores: fulano tem que fazer isso, beltrano aquilo, etc.. Acredito que esses tipos de incertezas trouxeram muito nervosismo ao grupo e as coisas foram estourando. Mas isso é uma opinião pessoal.

-- Mais: muita gente diz que ali foi a prova final da falta de autoridade de toda a comissão técnica da seleção, que tinha pouca voz de comando. Comenta-se, até, que os jogadores chegaram a cobrar mais bagagem tática dos treinadores. Isso aconteceu mesmo? Autoridade é algo que faltava a comissão técnica passada?
-- Volto a dizer, acho que não eram muito definidos os papéis na seleção, e não são aos jogadores, mas também aos técnicos. A minha impressão, e quero ser bem claro nisso, é que tínhamos 4 técnicos, e não 1 técnico e 3 assistentes. Pode parecer uma coisa estranha, mas ficava muito confusa a coisa. Todos queriam colocar alguma coisa ao invés de um colocar as idéias e os outros agregarem.

-- E falando em bagagem tática: você, que treina com um dos mais estudiosos técnicos do mundo, pode nos dizer o quanto estamos atrasados em termos técnico-táticos, se é que isso acontece? Como os treinadores daqui podem evoluir?
-- Acho que temos que começar das coisas mais simples. Para que as pessoas não falem que eu estou louco, que as coisas que eu falo não podem ser feitas no Brasil etc. e tal, vou dar o exemplo do vôlei. O Bernardinho, quando não está treinando algum time, pega um avião e vai atrás dos jogadores da seleção pra saber como estão, se fisicamente estão bem, em que posição estão jogando. Eu me lembro uma vez em que o Bernardinho não tinha gostado que um jogador tinha assinado com um time da Grécia, e ele estava preocupado se o jogador ia conseguir manter o mesmo nível jogando em um campeonato talvez mais fraco. No basquete, os caras não sabem que eu não jogo de 3 há 3 anos já. E só ficaram sabendo que em Bolonha tem dois times de excelente nível este ano porque o Marcelinho veio jogar aqui e não é no mesmo time que o meu...

-- Você é casado com a filha de um dos maiores contestadores da atual gestão da CBB e dos nossos técnicos, o Marcel. Você acha que isso acaba lhe prejudicando de alguma maneira, ou são coisas completamente distintas?
-- Olha, sinceramente, se tivesse que me prejudicar, já estaria me prejudicando desde 98, porque desde então a minha relação com o Marcel foi sempre a mesma, de grande amizade. Nós conversamos muito sobre basquete, em muitas coisas concordamos e em muitas outras não. Mas isso é porque somos dois apaixonados pelo esporte e vamos continuar fazendo sempre. O fato de ser casado com sua filha não creio que me prejudique agora só pelo fato de “oficialmente” ser relacionado a ele.

-- Muita gente diz que esta é a melhor geração do basquete brasileiro depois da do Oscar e do Marcel. Entretanto, esta geração pode ficar marcada por nunca ir a uma Olimpíada. Isso passa pela cabeça de vocês?
-- Com certeza passa pela nossa cabeça. Olimpíada é o sonho de cada atleta, e não alcançar esse objetivo na carreira seria muito frustrante.

-- Para fechar: o Sergio Hernandez, técnico da seleção argentina, disse-me, uma vez, que o Brasil tem mais peças do que ele para montar uma seleção. Os resultados, entretanto, mostram os hermanos anos luz na nossa frente. Por que isso acontece, e como reverter isso?
-- Com certeza o Brasil tem muitos talentos, mas não só no basquete. Temos 180 milhões de habitantes, não é possível não achar 12 talentos pra jogar basquete. O problema está em como desenvolver esses talentos e quando estão em uma seleção, por exemplo, fazer com que todos sigam a mesma estrada. No “achismo” não dá. Estudando e trabalhando, sim.

16 comentários:

Anônimo disse...

Parabens pela entrevista Fabio. E tb por trazer um jogador tao bem articulado quanto o Guilherme pra expor. É chover no molhado dizer que estamos atrasados, só não ve isso quem não quer. E como sempre andamos a passo de tartaruga.

Brasil só é grande nome em esporte no futebol porque tem muito, mas muito craque e no volei, por um trabalho de excelencia já de 20 anos. O resto é vive de casos de talento extraordinário.

É triste, mas pelo menos voce, Rodrigo entre outros jornalistas estão ai para mostrar, mesmo que para uma mídia pequena, as mazelas do nosso querido esporte da bola laranja. Parabéns ao seu trabalho.

Anônimo disse...

Faço minhas as palavras do amigo acima!
Parabens Fabio!

Anônimo disse...

Meu Deus, nós temos o mais dificil que é o talento.
Temos tambem jogadores conscientes do momento, mas não temos mais nada. Só bagunça.

Abs

Anônimo disse...

Bala nao esta na hora de fazer uma materia com a reviravolta do basquete do Marcelo Machado?
O cara ja foi considerado ate crazy shooter por aqui e hoje vendo as estatisticas da NBB eu vi que ele mudou o seu jogo, e pra melhor.
O cara alem de ter a melhor eficiencia no torneio, ainda lidera nao so os 3 pontos convertidos como era de se esperar , mas tambem os arremessos de 2 pontos com 71% de aproveitamento, na NBA nao tem nenhum armador com o percentual melhor do que 60%. Alem disso a mao certeira se faz presente nos lances livres com 91.4%, e o segundo da NBB, mais uma vez, na NBA ele estaria entre os 5 melhores.
Mas o que me chamou mais a atencao foi ver que ele tem 6.1 rebotes, 2 roubadas e 3.4 assistes por jogo e quanto aos erros, ele nao esta nem entre os 20, entao no maximo ele tem 2 erros por partida o que ja seria incrivel ja que ele tem uma media de 36 minutos por partida.
O cara esta mesmo melhorando com a idade, nao e?
Acho que se ele continuar assim ele tem mais e que continuar vestindo a amarelinha , fazendo dupla com o Guilherme.
Eles dois, Nene, Varejao, Leandrinho, Splitter, tavenari, Baby e mais 4.

fábio balassiano disse...

rafael, andré e anônimo, obrigado pela força. o guilherme falou muito bem nesta entrevista.

joel, pode ser, mas não creio no que você falou. nunca considerei o marcelinho um crazy shooter, e não posso comparar os jogos contra bauru, minas e afins (sem desmerecer os times) com os números da nba. isso seria um absurdo de minha parte. comparar as maneiras como os times jogam, sim. comparar os números dos atletas, não. são coisas diferentes ao meu ver.

de todo modo, colocarei a sua idéia para os leitores opinarem também...

abraços, fábio

Anônimo disse...

Muito boa a entrevista, parabéns.
Apenas anoto que com o Guilherme jogando na posição 4, perdemos uma importante peça na nossa maior deficiência, que é a 3.
Não concordo com o Joel, acho que o MM não dá conta do recado em alto nível. Sobra quem: o Tavernari, que é muito bom, mas inexperiente e "baixo", o Marquinhos sua montanha russa emocional, e mais quem?
Tomara que tenha algum iluminado aí nas categorias de base.

Anônimo disse...

Entao os numeros da NBA so servem pra falar mal do basquete nacional? quando valhe o elogio nao conta?
qual e a diferenca do lance livre na nba e na nbb?
dentro do mesmo nivel que esta se destacando?

mesmo assim eu retiro as comparaoces com a NBA, olhe os numeros do marcelo machado e atire a primeira pedra quem acha que o cara e so tiro de tres.
vamos reconhecer que o cara evolui nestes ultimos anos.

Anônimo disse...

Bela entrevista Fábio!
Realmente o Guilherme é um cara diferenciado...
Dentro e fora das quadras...
Abraços!

fábio balassiano disse...

joel, calma.
números são números, e você explorar da maneira que achar melhor. eu, apenas, não concordei com a comparação entre números brasil e números nba. dizer, por exemplo, que os quase 50 mil pontos do oscar são "melhores" que os 30 ou 40 mil do wilt chamberlaim ou do jordan não me parece o melhor caminho. mas é minha opinião.

de todo modo, ainda discordo de vc, mesmo respeitando a sua análise. o marcelinho machado não evoluiu de sete anos pra cá - juro, seu jogo é o mesmo, mesmíssimo. e pior: seu rendimento na defesa cai assustadoramente. no jogo de domingo, juro, eu me revoltei com o que vi. o cara não faz nem um mínimo esforço para levantar os braços e marcar. os dois gringos (larry e alex) cortaram-no com uma facilidade absurda!

ah, e tem uma coisa: o jogo do marcelinho continua, sim, baseado nos chutes de três. contra bauru, foram 9 tentativas de três, e apenas 3 de dois pontos (um par de bandejas em contra-ataque!).

é minha opinião, mas respeito muito a sua. e ela virará post no começo da tarde.

abraços, fábio.

Bert disse...

Enfim, veio a segunda parte!

rs.

Abs.

@lisangelo disse...

Beleza de entrevista. Falou o que todo mundo queria escutar de um jogador.

Anônimo disse...

Excelente entrevista. MUITO BOA e parabens Fabio.


Sobre o que Guilherme falou, todos nos que gostamos de basquetebol e militamos em varias frentes ja sabemos.

Porém, A ARROGÂNCIA de muitos que estao no poder nao deixam ver isso.

Afinal, deve ser triste pra estes saber menos do que varios por aqui.

Abraços.

Anônimo disse...

Poderia ter completado Fábio..

"contra bauru, foram 9 tentativas de três" e 7 arremessos certeiros..

Anônimo disse...

Joel,
valeu pela forca Andre Amaral.
qual tecnico que mandaria um jogador que chutou 9 bolas de 3 e acertou 7 pro banco?
E qual jogador que se metesse 7 de 9 nao iria continuar chutando?

Sobre as fotos da entrevista do guilherm, nao gostei, uma ele aparece reclando do juiz e nao outra parece que ele esta dizendo pro tecnico o que tem que ser feito, se isso acontece aqui no Brasil iriam meter o pau dizendo que o cara nao joga, so reclama.

Anônimo disse...

é isso ai joel!
critica o nosso jogador com a melhor cabeça!
e idolatra o crazy shooter marcelinho.

Anônimo disse...

Guilherme Giovannoni é um otimo jogador, e muito articulado fora de quadra

mas apesar de ser seu fã, ele ñ tem mais espaço na seleção brasileira

pois como ele mesmo disse ñ é mais 3 ( ala) e sim 4 ( ala-pivo)

posição onde temos: Nenê, Varejão, Splinter, Murilo, e caso necessite tem Jonathan's, o q joga na BYU e o q joga na Espanha e Marcus toledo e Marquinhos que são 3 mais podem jogar na 4

abraço

Fábio P. Oliveira SSA/ Bahia