quarta-feira, 3 de março de 2010

A teoria na prática

O economista Joelmir Beting tem um livro (de 1973) chamado “Na prática, a teoria é outra”. Não sei se Paulo Murilo, agora técnico do Saldanha da Gama, o leu, mas o fato é que ele desmente inteiramente a frase de Beting. Autor de um ótimo blog, Murilo sempre defendeu um jogo mais cadenciado, estudado e calcado na excelência dos fundamentos. Para quem o chamava de “teórico”, os dois primeiros jogos com o time (derrota diante do Pinheiros e vitória contra o Paulistano) são um tapa com luva de pelica. O técnico Paulo Murilo parece ser tão bom quanto o blogueiro Paulo Murilo. Mas com uma diferença: ele prova que a teoria pode, sim, ser aplicada na prática. Por isso o blog decidiu entrevistá-lo.

BALA NA CESTA: Depois de 18 dias de treinos e duas partidas, já dá para fazer uma análise de seu trabalho com o Saldanha da Gama?
PAULO MURILO: Sim, e tenho a sensação de que se tivesse tido pelo menos um mês a mais de treinos, estaríamos certamente entre os oito primeiros, e os números embasam essa crença.

-- Neste período de treinos, o que o senhor conseguiu verificar como maiores deficiências dos atletas, e até que ponto a formação do jogador brasileiro é defasada?
-- A maior deficiência, até criminosa, é a opinião generalizada de que jogadores adultos não necessitam treinar fundamentos em tempo integral, que eles mesmos não acham tal atividade primordial, e, mais ainda, que na idade deles nada pode ser modificado tecnicamente. Trata-se de uma ofensa grave ao basquete, proferida por quem faz do grande jogo um trampolim técnico-político, o que no final das contas define o quem é quem na modalidade. Oitenta por cento destes 20 dias foram de fundamentos integrais, individuais e coletivos (sim, senhores, coletivos...), e 20% para o conhecimento, adaptação e discussão de um sistema. Daí as aventuras e descalabros nos arremessos de três, e os erros primários quando exigidos defensivamente. Trata-se de uma tragédia com reflexos diretos nas divisões de base, onde os "sistemas" de jogo antecedem os fundamentos. Prova da inversão de valores técnicos que nos têm levado ladeira abaixo nos últimos 20 anos, e, o que é pior, nas seleções de base.

-- Você tem adotado uma postura tática que muita gente conhece através de seus posts: dois armadores, três pivôs móveis. Como é isso em quadra? Fale, também, da sua "ordem" pelos não-chutes de três pontos e poucos erros. Essa pergunta, aliás, gera outra: será que é possível, sim, vermos uma seleção nacional com Nenê, Anderson Varejão e Splitter ao mesmo tempo, ou é devaneio?
-- -Tenho aplicado esse,vamos conceituar, sistema, há muitos anos, e agora aqui no Saldanha, claro cumprindo o pré-requisito dos fundamentos, para que o mesmo se torne plausível. Os 22 erros do jogo passado ainda sinalizam a premente necessidade de praticarmos alguns fundamentos pendentes, passes e fintas. Se aceitarmos o lugar comum que setoriza um perímetro externo e outro interno, limitados pela linha dos três pontos, podemos determinar o externo como de ação direta dos dois armadores, em toda a sua extensão, e o interno como região prioritária dos três homens altos, que se rápidos, flexíveis e habilidosos com o manejo da bola, os tornarão em verdadeiros “arrietes” por sobre a defesa adversária, tanto no sentido incisivo à cesta (prioridade dos dois pontos), como no sentido contrário, de dentro para fora do mesmo, onde os arremessos de dois ainda serão os de maior eficiência, e mesmo os de três, executados por aqueles jogadores que realmente os dominam, de uma forma mais equilibrada e protegida. A integração destes dois setores aparentemente estanques é que conotarão a qualidade do sistema proposto, que como todo sistema aberto prioriza a técnica, a improvisação e a perfeita leitura de jogo, todas ações aleatórias, que são variáveis constantes nos desportos de contato físico. Quanto ao três jogadores mencionados, o Splitter, o Varejão e o Nenê, imagine-os jogando dentro do sistema que defini a seu pedido. Encaixe mais do que perfeito, mas não nos iludamos, é ousado demais para o gosto estratificado de nossos experts. O Magnano? Talvez...

-- Por fim, um desafio: será que o senhor consegue levar o Saldanha aos playoffs? Ainda acredita nisso?
-- Como disse antes, com mais um mês de treinamento, com certeza, mas como o jogo se decide na quadra e nunca me dou por vencido, estaremos todos lutando para lá chegarmos.

9 comentários:

Anônimo disse...

excelente papo!
gosto mto do que ele vem fazendo por aqui
vi alguns treinos. mto bom

eduardo

Anônimo disse...

o paulo murilo apontou um caminho interessante, hien...


ricardo ms

Victor Dames disse...

Excelente, Bala! Uma entrevista de três perguntas (embora a do meio equivalesse a várias, hehehe) que valeu por uma aula inteira! Paulo Murilo demonstra que o conhecimento antigo do basquete se atualiza, se recicla, sem precisar de recriações. Questionei-o no próprio blog sobre qual seria o uso que ele daria ao arremesso de três, e ele mais uma vez demonstra que usado com sabedoria, pode ser até um bom fundamento, e não uma válvula de escape como fazem a maioria das equipes latinas.

Abraços!

Bozo disse...

Só pra registrar que o Paulo Murilo tem uma vasta experiência como técnico de basquete e essa não é a sua primeira investida nesta área.

Anônimo disse...

Parabéns Professor Paulo Murilo !

Esperanças de dias melhores para o nosso jogo !

Enfim alguem parou com a chutação sem lógica e falta total de treinamento de fundamentos básicos que vemos por aí !

Anônimo disse...

Ueeeee...
Tomar de 30 pts em casa ?
E a tal marcação?
E o 3 pivôs?
E o chute de 3 proibido?
Aí sim vimos 2 técnicos da mesma geração e um sabendo o q faz e o outro fazendo experimentos revolucionário.
Sr Paulo desça do pedestal da cultura eu contra todos.
Vergonhoso o q aconteceu contra Franca.
Foi querer brincar com fogo e se queimou ..

Pedro disse...

Fala agora, anônimo, vitória contra o líder Brasilia, hahahahahhaa

Anônimo disse...

Prof. Paulo Murilo para técnico da seleção já!!!

Anônimo disse...

Prof. Paulo Murilo para técnico da seleção já!!!