quarta-feira, 3 de junho de 2009

Toda a magia de Paula

Maria Paula Gonçalves não entrou na seleção do Mundial de 1994 - foi preterida pela americana Teresa Edwards. E não há seleção de um Mundial em que Paula anota 19,8 pontos e 4,4 assistências sem Magic Paula no quinteto inicial - e ponto. Inteligente, educada e extremamente sincera, ela admite a desconfiança com o nome de Miguel Ângelo da Luz antes da competição e conta como foi foram aqueles dias de 15 anos atrás. No final de um dos emails trocados com essa craque, ela ainda soltou um "Fábio, eu não sou muito boa de memória". Imagino se não fosse...

BALA NA CESTA: Vocês vinham de uma Olimpíada de Barcelona um pouco traumática (sétimo lugar). Como foi o approach para o Mundial, e no que a comissão do Miguel Ângelo foi importante neste processo?
PAULA: Acho que Barcelona foi um aprendizado. Não basta chegar: tem que focar no que foi feito em uma Olimpíada. Mudanças são importantes, mas tivemos um momento de descontentamento com a escolha do Miguel. Achávamos falta de prestígio aos treinadores do feminino, pois não conhecíamos o Miguel. Mas, analisando depois, ficou bem clara a importância de uma equipe técnica competente. O mérito é de toda uma equipe de trabalho. O Waldyr (Pagan) conduziu os jovens meninos (da comissão) ao sucesso. O Sergio (Maroneze, assistente) era o estrategista; o Hermes, o catedrático da preparação física; e toda equipe médica, chefiada pela competente Marli. Assim foi fácil trabalhar com as jogadoras. Eu e Hortência (as lideranças) estávamos mais maduras, a comissão escutava demais a opinião do grupo e nos sabíamos onde queríamos chegar.

-- Muita gente diz que naquele Mundial você jogou os melhores jogos da sua bela carreira. Falar de si mesma deve ser complicado, mas como foram aqueles dias de competição e como foi ver aquele grupo jovem e experiente brilhar tanto sob a sua, digamos, tutela?
-- O importante daquela equipe foi ter conseguido agregar os valores das demais jogadoras, e isso a comissão técnica fez muito bem, principalmente o Waldyr, cuidando da cabecinha das mais novas. Eu já estava com 32 anos e sem as frescuras e vaidades que fizeram muito mal ao basquete brasileiro. Foi um retrocesso. Para jogar bem você tem que estar feliz e eu estava em um momento tranqüilo da minha vida. Jogar com aquela equipe dava gosto. Era só incentivo, e nós também estávamos cansadas da cobrança exagerada.

-- Quando você fecha os olhos e lembra daquela competição, que momento lhe vem à cabeça? Ou uma palavra...
-- A palavra é superação. Aquele era o nosso quinto mundial (risos). Qualquer um teria desistido. Nossa preparação foi com equipes masculinas, mas diziam que não tínhamos dinheiro. E lá estávamos novamente acreditando. A equipe de técnicos foi perfeita e hoje estão esquecidos e com certo nojo da competição. É uma pena!

-- Vocês ganharam este Mundial e dois anos depois uma medalha em Atlanta. Fica uma certa frustração ao ver que, 15 anos depois, quase nada daquilo que vocês fizeram em quadra foi revertido para o basquete brasileiro como estrutura, modelos técnicos e investimentos?
-- Falar da construção de uma base no basquete brasileiro é relembrar 1976, quando nós começamos a defender a camisa do nosso país. Acredito que nada mudou! As conquistas da nossa geração vieram pelo talento do grupo e a força que os clubes tinham naquele período. Nós começamos a nos organizar e a não depender da CBB porque sabíamos que todo o apoio era sempre voltado ao masculino – o feminino é relegado a segundo plano. Vivemos historicamente da falta da construção e de renovação em todos os setores que envolvem o basquete brasileiro.

9 comentários:

Bert disse...

Bala,
Já te disse isso, mas registro aqui: essa entrevista da Paula é das melhores coisas que li nesses 18 anos de basquete.
Simplesmente formidável.
Difícil avaliar com isenção o trabalho de amigos, mas a série está fantástica nesses primeiros dois dias. Com certeza, será um material de referência sobre a competição, que infelizmente tem poucos dados disponíveis ao público. Os presentes no site da CBB, inclusive, contém erros grosseiros.
Te parabenizo novamente pela grande ideia e mais ainda pela paixão com a qual a você a vem executando nas últimas semanas.
Isso é admirável e um estímulo para quem gosta de basquete como eu.
Obrigado.
Um abraço,
Bertrand

Adriano disse...

Bela entrevista, Bala! A série está muito interessante também, nem lembrava que havíamos perdido aquele jogo na primeira fase. Abraço!

sta.ignorancia® disse...

Tbm adorei a entrevista.

Parabéns!

marcelo disse...

mt bom

parabens paula e todas campeãs do mundo em 94

Anônimo disse...

Lá vou eu de novo. rsss

Bala, parabéns.

Acho que até o final da serie eu irei chorar com os seus textos.

Abs

Alexandre Reis

Anônimo disse...

Santa Imparcialidade

Bela entrevista da Paula,com a sinceridade de sempre,foi mesmo o espirito de grupo,e a união,com as mais novas respeitando as mais velhas ou experientes,e com uma dupla Paula e Hortencia no máximo de suas carreiras,e o surgimento internacional da Janete.Veja bem Bala,não houve amistosos,somente com masculino e algumas femininas,alguns jogos amistosos na Austrália antes da competição,derrotas para seleção juvenil da Australia,mas tudo foi superado,não teve essa de revezamento,dê uma olhada nas estatisticas e o tempo de jogo e observe quanto jogou Adriana,Helen,Dalila,Cintia Santos e a Simone, veja a quantidade de pontos por nós sofrida,veja a eficiencia do trio-Paula, Hortencia,e Janete, em relação as demais e o apoio da Leila-Rute e Alessandra,que humildemente entederam que o momento era do trio de ouro.Ganhamos,ninguem criticou a defesa que tomou em duas oportunidades mais de cem pontos,o revezamento das jogadoras,a falta de amistosos internacionais,a inexperiencia de uma CT, que foi salva pela experiencia do Pagan,mas quando a vitória vem tudo se torna Superação.Na entrevista fica claro as funções do Maroneza,do Pagan,do Hermes Balbino(outro perda do basquete feminino)mas não deixa claro onde entra o Miguel nessa. Tudo isto é irrelevante perante a grandiosidade do fato, que infelismente quem pode assistir,acompanhar,vivenciar,esta conquista que,como bem descreve a Paula começou em 1976, e foi se consagrar merecidamente em 1994 e,com sua primeira grande conquista em 1991 em Cuba,e bem lembrou a Hortencia,na entrevista da epóca na Folha de S.Paulo bateu na trave em 1983-Mundial em São Paulo.Ficamos felizes por esta lembrança,principalmente em um pais cuja caracteristica é o encurtamento da memória e as criticas sem muito conhecimento anterior(da história na estória)

fábio balassiano disse...

valeu pela força, galera.
pela primeira vez em muito tempo eu gosto de uma entrevista que fiz.
a paula ajudou muito.

abs, fábio balassiano.

Duda 11 disse...

Parabéns Bala, a entrevista ficou realmente muito boa! A Paula, como sempre, está muito sensata! Fico ansioso pelas próximas postagens...
Abs

fábio balassiano disse...

valeu, dud11. continue acompanhando. tem mais coisa legal vindo por aí. prometo.

abs e obrigado, fábio