
BALA NA CESTA: Vocês vinham de uma Olimpíada de Barcelona um pouco traumática (sétimo lugar). Como foi o approach para o Mundial, e no que a comissão do Miguel Ângelo foi importante neste processo? 
PAULA: Acho que Barcelona foi um aprendizado. Não basta chegar: tem que focar no que foi feito em uma Olimpíada. Mudanças são importantes, mas tivemos um momento de descontentamento com a escolha do Miguel. Achávamos falta de prestígio aos treinadores do feminino, pois não conhecíamos o Miguel. Mas, analisando depois, ficou bem clara a importância de uma equipe técnica competente. O mérito é de toda uma equipe de trabalho. O Waldyr (Pagan) conduziu os jovens meninos (da comissão) ao sucesso. O Sergio (Maroneze, assistente) era o estrategista; o Hermes, o catedrático da preparação física; e toda equipe médica, chefiada pela competente Marli. Assim foi fácil trabalhar com as jogadoras. Eu e Hortência (as lideranças) estávamos mais maduras, a comissão escutava demais a opinião do grupo e nos sabíamos onde queríamos chegar.
-- Muita gente diz que naquele Mundial você jogou os melhores jogos da sua bela carreira. Falar de si mesma deve ser complicado, mas como foram aqueles dias de competição e como foi ver aquele grupo jovem e experiente brilhar tanto sob a sua, digamos, tutela?
-- O importante daquela equipe foi ter conseguido agregar os valores das demais jogadoras, e isso a comissão técnica fez muito bem, principalmente o Waldyr, cuidando da cabecinha das mais novas. Eu já estava com 32 anos e sem as frescuras e vaidades que fizeram muito mal ao basquete brasileiro. Foi um retrocesso. Para jogar bem você tem que estar feliz e eu estava em um momento tranqüilo da minha vida. Jogar com aquela equipe dava gosto. Era só incentivo, e nós também estávamos cansadas da cobrança exagerada.
-- Quando você fecha os olhos e lembra daquela competição, que momento lhe vem à cabeça? Ou uma palavra...
-- A palavra é superação. Aquele era o nosso quinto mundial (risos). Qualquer um teria desistido. Nossa preparação foi com equipes masculinas, mas diziam que não tínhamos dinheiro. E lá estávamos novamente acreditando. A equipe de técnicos foi perfeita e hoje estão esquecidos e com certo nojo da competição. É uma pena!
-- Vocês ganharam este Mundial e dois anos depois uma medalha em Atlanta. Fica uma certa frustração ao ver que, 15 anos depois, quase nada daquilo que vocês fizeram em quadra foi revertido para o basquete brasileiro como estrutura, modelos técnicos e investimentos?
-- Falar da construção de uma base no basquete brasileiro é relembrar 1976, quando nós começamos a defender a camisa do nosso país. Acredito que nada mudou! As conquistas da nossa geração vieram pelo talento do grupo e a força que os clubes tinham naquele período. Nós começamos a nos organizar e a não depender da CBB porque sabíamos que todo o apoio era sempre voltado ao masculino – o feminino é relegado a segundo plano. Vivemos historicamente da falta da construção e de renovação em todos os setores que envolvem o basquete brasileiro.

PAULA: Acho que Barcelona foi um aprendizado. Não basta chegar: tem que focar no que foi feito em uma Olimpíada. Mudanças são importantes, mas tivemos um momento de descontentamento com a escolha do Miguel. Achávamos falta de prestígio aos treinadores do feminino, pois não conhecíamos o Miguel. Mas, analisando depois, ficou bem clara a importância de uma equipe técnica competente. O mérito é de toda uma equipe de trabalho. O Waldyr (Pagan) conduziu os jovens meninos (da comissão) ao sucesso. O Sergio (Maroneze, assistente) era o estrategista; o Hermes, o catedrático da preparação física; e toda equipe médica, chefiada pela competente Marli. Assim foi fácil trabalhar com as jogadoras. Eu e Hortência (as lideranças) estávamos mais maduras, a comissão escutava demais a opinião do grupo e nos sabíamos onde queríamos chegar.
-- Muita gente diz que naquele Mundial você jogou os melhores jogos da sua bela carreira. Falar de si mesma deve ser complicado, mas como foram aqueles dias de competição e como foi ver aquele grupo jovem e experiente brilhar tanto sob a sua, digamos, tutela?

-- Quando você fecha os olhos e lembra daquela competição, que momento lhe vem à cabeça? Ou uma palavra...
-- A palavra é superação. Aquele era o nosso quinto mundial (risos). Qualquer um teria desistido. Nossa preparação foi com equipes masculinas, mas diziam que não tínhamos dinheiro. E lá estávamos novamente acreditando. A equipe de técnicos foi perfeita e hoje estão esquecidos e com certo nojo da competição. É uma pena!
-- Vocês ganharam este Mundial e dois anos depois uma medalha em Atlanta. Fica uma certa frustração ao ver que, 15 anos depois, quase nada daquilo que vocês fizeram em quadra foi revertido para o basquete brasileiro como estrutura, modelos técnicos e investimentos?

-- Falar da construção de uma base no basquete brasileiro é relembrar 1976, quando nós começamos a defender a camisa do nosso país. Acredito que nada mudou! As conquistas da nossa geração vieram pelo talento do grupo e a força que os clubes tinham naquele período. Nós começamos a nos organizar e a não depender da CBB porque sabíamos que todo o apoio era sempre voltado ao masculino – o feminino é relegado a segundo plano. Vivemos historicamente da falta da construção e de renovação em todos os setores que envolvem o basquete brasileiro.
9 comentários:
Bala,
Já te disse isso, mas registro aqui: essa entrevista da Paula é das melhores coisas que li nesses 18 anos de basquete.
Simplesmente formidável.
Difícil avaliar com isenção o trabalho de amigos, mas a série está fantástica nesses primeiros dois dias. Com certeza, será um material de referência sobre a competição, que infelizmente tem poucos dados disponíveis ao público. Os presentes no site da CBB, inclusive, contém erros grosseiros.
Te parabenizo novamente pela grande ideia e mais ainda pela paixão com a qual a você a vem executando nas últimas semanas.
Isso é admirável e um estímulo para quem gosta de basquete como eu.
Obrigado.
Um abraço,
Bertrand
Bela entrevista, Bala! A série está muito interessante também, nem lembrava que havíamos perdido aquele jogo na primeira fase. Abraço!
Tbm adorei a entrevista.
Parabéns!
mt bom
parabens paula e todas campeãs do mundo em 94
Lá vou eu de novo. rsss
Bala, parabéns.
Acho que até o final da serie eu irei chorar com os seus textos.
Abs
Alexandre Reis
Santa Imparcialidade
Bela entrevista da Paula,com a sinceridade de sempre,foi mesmo o espirito de grupo,e a união,com as mais novas respeitando as mais velhas ou experientes,e com uma dupla Paula e Hortencia no máximo de suas carreiras,e o surgimento internacional da Janete.Veja bem Bala,não houve amistosos,somente com masculino e algumas femininas,alguns jogos amistosos na Austrália antes da competição,derrotas para seleção juvenil da Australia,mas tudo foi superado,não teve essa de revezamento,dê uma olhada nas estatisticas e o tempo de jogo e observe quanto jogou Adriana,Helen,Dalila,Cintia Santos e a Simone, veja a quantidade de pontos por nós sofrida,veja a eficiencia do trio-Paula, Hortencia,e Janete, em relação as demais e o apoio da Leila-Rute e Alessandra,que humildemente entederam que o momento era do trio de ouro.Ganhamos,ninguem criticou a defesa que tomou em duas oportunidades mais de cem pontos,o revezamento das jogadoras,a falta de amistosos internacionais,a inexperiencia de uma CT, que foi salva pela experiencia do Pagan,mas quando a vitória vem tudo se torna Superação.Na entrevista fica claro as funções do Maroneza,do Pagan,do Hermes Balbino(outro perda do basquete feminino)mas não deixa claro onde entra o Miguel nessa. Tudo isto é irrelevante perante a grandiosidade do fato, que infelismente quem pode assistir,acompanhar,vivenciar,esta conquista que,como bem descreve a Paula começou em 1976, e foi se consagrar merecidamente em 1994 e,com sua primeira grande conquista em 1991 em Cuba,e bem lembrou a Hortencia,na entrevista da epóca na Folha de S.Paulo bateu na trave em 1983-Mundial em São Paulo.Ficamos felizes por esta lembrança,principalmente em um pais cuja caracteristica é o encurtamento da memória e as criticas sem muito conhecimento anterior(da história na estória)
valeu pela força, galera.
pela primeira vez em muito tempo eu gosto de uma entrevista que fiz.
a paula ajudou muito.
abs, fábio balassiano.
Parabéns Bala, a entrevista ficou realmente muito boa! A Paula, como sempre, está muito sensata! Fico ansioso pelas próximas postagens...
Abs
valeu, dud11. continue acompanhando. tem mais coisa legal vindo por aí. prometo.
abs e obrigado, fábio
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