Quatro títulos da Euroliga (dois pelo Bologna, dois pelo CSKA Moscou) levaram Ettore Messina ao maior desafio de sua carreira. Aos 50 anos, o italiano agora comanda um Real Madrid que tem um objetivo “simples”: voltar a dominar a Europa como não acontece desde as décadas de 60 e 70. Por isso o clube merengue foi ao mercado, trouxe dez reforços e aquele que melhor sabe cuidar de jogadores no continente: ele mesmo, Messina, talvez o técnico mais estudioso, dedicado e obcecado por treinamentos que exista (“talento, trabalho e coração” foram as suas primeiras palavras na coletiva de apresentação). Nesta entrevista, ele fala sobre o começo no Madrid, das diferenças entre o basquete espanhol e os outros que já dirigiu e sobre as expectativas para a temporada.
BALA NA CESTA: Apesar das derrotas recentes (para o Barcelona inclusive), você esperava ter um sucesso tão imediato (12-4 na ACB e 6-2 na Euroliga) com uma equipe tão nova e com dez contratações de uma temporada para outra?
ETTORE MESSINA: Começamos a temporada muito bem, ganhando partidas de maneira consecutiva, mas logo as lesões começaram a afetar o rendimento da equipe. Agora precisamos voltar a pegar o ritmo pouco a pouco para recuperar os jogadores que estão lesionados. Mas, de verdade, não esperava tantas vitórias neste começo.
-- Após ter dirigido na Itália e na Rússia, já consegue perceber as diferenças entre o basquete espanhol e dos outros dois países?
-- O basquete é um esporte igual em todos os países do mundo, mas é óbvio que há diferenças com relação a características, cultura local, expectativa, interesses, realidades econômicas e qualidade das equipes envolvidas. Mas estou certo de fazer parte, agora, de uma das maiores ligas do mundo, levando em conta os fatores acima.
-- O Real, seu time, atua com quase 11 jogadores por partida, não tem ninguém que arremesse mais de dez bolas por jogo e tem rebotes e assistências bem divididas na Liga ACB. Além disso, possui um dos ataques mais potentes (77,3), é o que menos erra (12,6) e conta com uma defesa pouco vazada (71,1). O segredo do basquete moderno é, definitivamente, defender com potência, atacar com responsabilidade e “proteger” a bola a todo custo?
-- Sem dúvida alguma. Todos os aspectos que você comentou são muito importantes para que tenhamos um time constante, e com potencial para disputar as 80 partidas da temporada (somando Euro, ACB e Copa do Rey). É muito importante ter um banco de reservas amplo, profundo, com opções, para que as lesões, que sempre acontecem, sejam menos prejudiciais ao longo das competições. De todo modo, a maneira com que jogamos deve ser a mesma sempre, e passa muito pelo que foi citado na pergunta.
-- Você é reconhecidamente um dos técnicos com mais cargas de estudos que existe. Como você se mantém atualizado depois de tantos triunfos em sua carreira?
-- Parece que quando você ganha títulos, sua única opção é continuar vencendo. Não pelo presente, mas para justificar o passado e o que conseguiu. Entendo que esta é a maneira das pessoas pensarem, viver o esporte, mas acho que ninguém deve exigir mais dos outros do que a própria pessoa. Trabalhando em alto nível, porém, o que posso te dizer é o seguinte: vencer é uma questão que não depende só de mim, mas se eu não me atualizar e estudar, estou morto para a minha profissão, principalmente para o alto nível.
--Por fim, te pergunto sobre a sua impressão do basquete brasileiro na atualidade. Para um italiano que cresceu vendo as glórias de Oscar e Marcel, qual é a sensação de quem vê as Olimpíadas sem a presença do nosso país?
-- Não sigo os campeonatos nacionais daí, mas vejo os brasileiros atuando na Europa e na NBA. Fiquei feliz recentemente com a classificação ao Mundial que vocês conseguiram com o Moncho Monsalve como técnico, e espero que daqui por diante isso se repita para que possa revê-los em uma Olimpíada. Afinal o Brasil é um dos países mais tradicionais do basquete.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
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10 comentários:
Bala, muito boa a entrevista. Gostei das palabras desse tecnico, principalmente da resposta da quarta pergunta: "... mas acho que ninguém deve exigir mais dos outros do que a própria pessoa..."
Belas palavras.
Abraços
"Afinal o Brasil é um dos países mais tradicionais do basquete."
Pobre tradicao tao maltratada...
Legal a entrevista, Bala. Principalmente a parte da constante atualizacao. A todo instante ficava lembrando da entrevista com o Bernadinho... só estudo e trabalho sério levam a alguma coisa, nao? Que os treinadores tupiniquins aprendam a receita!
Abraco
Só lendo esta entrevista ja da pra entender por que o Messina é tão vitorioso.... Otimo post Bala Parabens !!!
Muito boa entrevista Bala. Espero que os nossos técnicos tenham oportunidade de lê-la também...
Ótimo exemplo para os amates do basquete, juntando com grandes tb como Bernardinho e um tal de Jordan desafios e muito estudo são motivos para se manter no topo... pois como disse o proprio jordan, quando se chega ao topo da montanha você deve defende la pra se manter no topo...logo para os técnicos estudar, atualizar é que vai mante los la no topo da montanha...
parabéns pelo belo exemplo que você trouxe pra gente bala!!
Parabens pela entrevista.
Realmente faltam profissionais assim na CBB pra comandar o nosso basquete!
É incrível como o discurso do Messina é parecido com o do Bernardinho, não?
Bela entrevista, Bala. Parabéns, deu show.
aos amigos que comentaram aqui, eu agradeço pelas palavras.
acho que todo mundo sabe que sou fã do messina, e entrevistar foi um orgulho muito grande pra mim, até pq o cara não fala com muita gente.
Sem dúvida os discursos de Bernardinho e Messina se parecem, porque ambos são estudiosos, gostam de treinar muito e são atualizados. e os dois, acima da média mesmo!
abs, fábio balassiano
muito legal, é bom ler entrevistas com gente diferente dos comuns aqui do brasil, que tem respostas cada vez mais iguais às de jogadores e treinadores de futebol...
o messina deveria servir de inspiração para todos, é um estudioso e, automaticamente, um vitorioso. sem contar a honestidade e ética que ele transparece nas palavras, algo em falta por aqui...
profissionais estudiosos e investimento na base: a simples receita para o sucesso!
Parabéns Bala, ótima entrevista. Vocês perceberam como ele foi um "gentleman" ao dizer que o Brasil se classificou com um técnico de fora. Foi sutil, mas deixou seu recado bem direitinho...
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