terça-feira, 18 de agosto de 2009

Simplesmente Bernardinho - Parte 2

Se perdeu a Parte1, clique aqui e confira.
BALA NA CESTA: Tão importante como conhecer os seus atletas é conhecer o jogo, e parece que além de você a sua comissão técnica tem papel fundamental no bom desempenho do vôlei nos últimos anos no Brasil. Como é essa divisão de papéis na comissão, até aonde vai a sua voz de comando e as deles, e como é seu método de estudo técnico-tático da modalidade?
BERNARDINHO: Temos uma equipe multidisciplinar que através de seus conhecimentos e talentos diversos e complementares tenta extrair o que de melhor nossos atletas/time pode oferecer. Hoje temos um manager (ex-treinador das divisões de base), que responde pelas questões logísticas (viagens, hotéis, contatos com jogadores). Temos um "head-coach" (técnico principal), que coordena toda a Comissão Técnica e é responsável pelo planejamento, observação e escolha de atletas, e mentor da metodologia de treinamento e do padrão tático da equipe (forma de jogar em função dos talentos a disposição). Dois assistentes técnicos (momentaneamente apenas 1), que comandam parte dos treinamentos técnicos e estudam, junto ao treinador principal, equipes adversárias. O preparador físico é responsável por tudo o que diz respeito a condicionamento e desenvolvimento das valências físicas dos atletas. Uma equipe médica comandada por um ortopedista e composta por dois fisioterapeutas que se revezam nos cuidados de cura e prevenção de lesões de nossos atletas. Temos ainda um estatística, que além de acumular um enorme banco de imagens das equipes mundo afora, é responsável pela elaboração de relatórios táticos sobre as mais diversas características de nossos adversários. Contamos ainda com o apoio de um médico do esporte e uma nutricionista, que cuidam das questões fisiológicas e da "saúde"dos atletas.

-- Não faz muito tempo, os atletas da NBA tinham uma grande dificuldade em vir atuar pela seleção masculina de basquete, gerando opiniões sobre a falta de comprometimento dos mesmos diante da situação da modalidade. Em contrapartida, sua seleção ganhou tudo, e o melhor jogador de vôlei do mundo, o Giba, recentemente esteve, ao lado do Serginho, disputando uma Liga Mundial em condições adversas na Sérvia. Este nível de comprometimento é individual, faz parte de uma filosofia da comissão técnica que os jogadores devem seguir ou é apenas coincidência?
-- Há de se compor a questão de calendários, se buscar os ajustes, mas sempre tendo como base a motivação e a vontade do atleta em defender a seleção, entendendo que para tudo há um preço a ser pago.

-- Como manter a “motivação” tão alta para uma geração que ganhou praticamente tudo nos últimos oito anos? A zona de conforto é uma de suas maiores inimigas, não?
-- O mais importante é criar a consciência de que as únicas coisas importantes são o próximo ponto e a próxima competição. O preço será cada vez mais alto e não há espaços para zonas de conforto. Se superar permanentemente deve ser a meta de cada um de nós.

-- Há algo ainda mais impressionante neste time que você comanda no vôlei. Os valores éticos e comportamentais que o Brasil tanto necessita estão, em uma escala menor, representados no seu time. Tudo isso vem ao lado de uma taxa de sacrifício impressionante por parte da comissão técnica e dos atletas. Que legado você gostaria que permanecesse após tudo isso?
-- O legado que gostaria que permanecesse dessas gerações de atletas que tive o privilégio de dirigir são: valorização permanente do trabalho, do time e da busca permanente pela excelência. Entendendo que "os fins não podem justificar os meios"

-- Quando acabaram os Jogos de Pequim, você apareceu na televisão chorando porque pressentia o final de um ciclo vitorioso. Como foi a retomada do trabalho, qual foi o approach que você usou com a CBV para a renovação, e como este planejamento foi viabilizado, pensando no Mundial de 2010 e nas Olimpíadas de 2012?
-- O choro não se deveu a perspectiva do fim de um ciclo vitorioso, mas ao fim de um grupo que sofreria algum tipo de renovação e portanto não mais seria o mesmo. A despedida de grandes atletas/pessoas, das quais sinto muita falta hoje e o receio que a medalha de prata (creio uma bela conquista) fosse vista como um grande fracasso, colocando em dúvida tudo de tão impressionante que aquele grupo de atletas havia conquistado. Estamos sempre planejando, tentando entender e aprender com as lições do passado, não nos satisfazendo com o presente e prontos para construir o futuro.

-- Por fim, não poderia deixar de fazer uma pergunta/provocação: você, que sempre declarou admirar e gostar da modalidade, admitiria a possibilidade de treinar uma equipe/seleção no basquete? Isso já passou pela sua cabeça alguma vez?
-- Adoro o basquete como tantos outros esportes, mas não tenho o conhecimento necessário para dirigir uma equipe. No entanto, poder conviver e debater métodos de trabalho com comissões técnicas do basquete e aprender com grandes treinadores seria muito interessante para a minha evolução profissional.

6 comentários:

Anônimo disse...

excelente!
o cara é fera

abraços, delcio josé

Anônimo disse...

Excepcional !

Bernardinho é um cara que realmente merece todo o respeito do mundo.


E poderia nos ajudar muito em:

PLANEJAMENTO -- ORGANIZAÇÃO --
VALORIZAÇÃO DOS FUNDAMENTOS NO TREINAMENTO.

"pelo menos" nisso.

É um genio mesmo !

Seria muito bem vindo no basketball!

Anônimo disse...

Joga o Bernardinho pro Feminino!!!!!!!

Anônimo disse...

Bala, realmente o Bernardinho é um dos exemplos de sucesso no Brasil e no mundo.
É o que afirmaram acima: alguns exemplos devem ser copiados!!!! Treinos e fundamentos nunca são demais em qualquer atividade, seja ela esportiva ou não!!!
Parabéns Bernardinho!!!

E parabéns Bala, pela iniciativa e pela entrevista!!!! To virando fã!!!

Paulista

Bruno Olegário F. Lima disse...

Sensacional!!!!
É isso que posso afirmar.
Essa entrevista deveria ser leitura obrigatória para todos aqueles que sonham em ver um dia o basquete no seu devido lugar.
Só fiquei com uma dúvida quando cita na primeira parte da entevista "que dispomos de grandes treinadores, preparados, estudiosos". Aonde estariam esses?
Por fim, se alguém precisava de dicas de leitura, deveria selecionar todas as citadas pelo entrevistado, ir num site (amazon.com) e encomendar rapidamente. Eu posso quebrar a cara, mas gostaria de saber se algum treinador de basquete leu metade do que foi citado.
Enfim, vamos lutando por um basquete melhor.
Mais uma vez, é preciso destaque e salva de palmas para o Balassiano, pois após 1000 posts e nos presentear com essa grata entrevista, merece uma salva de palmas.
Bruno Olegário F. Lima.

fábio balassiano disse...

amigo bruno, obrigado pelas palavras.
um incentivo seu vale demais.
parabéns pelas colocações!

abs, fábio.