quarta-feira, 15 de outubro de 2008

As reflexões de Paulo Bassul

Antes de desligar o telefone, Paulo Bassul diz: “Rapaz, vou apanhar meu filho no colégio. O Thiago se tornou um baita companheiro nestes momentos”. Tem sido assim a rotina do técnico da seleção brasileira e ex-comandante de Ourinhos. Em casa e curtindo a família como há muito não fazia, o treinador, feliz, lúcido e pensativo, tem se dedicado a planejar o próximo ciclo do basquete feminino, a analisar porque a campanha na Olimpíada não foi boa e, claro, projetar o seu futuro. Foi isso que ele conversou com o BALA NA CESTA nesta entrevista.

BALA NA CESTA: Bassul, em primeiro lugar gostaria que você esclarecesse a sua saída de Ourinhos.
PAULO BASSUL: Após o Paulista os dirigentes me comunicaram a decisão que haviam tomado. Desde que assumi a seleção, eles falaram do descontentamento por eu ficar fora de Ourinhos por um período grande do ano. Assim como acredito que um técnico deve ter autonomia para escalar a equipe, penso que é atribuição do dirigente definir quem ele quer no comando. Portanto, respeito a opinião e o desejo deles, e saio tranqüilo, mesmo enfrentando isso pela primeira vez na minha carreira.

- Então o aspecto de trabalhar em seleção e em clube acabou, sem querer, atrapalhando no desenrolar do trabalho em Ourinhos.
- Pode-se dizer que sim. É perfeitamente possível se acumular as duas funções porque os campeonatos sempre pararam durante o período de seleção. O problema é que, para acertar o calendário, todos concordaram em prosseguir com o Paulista deste ano mesmo com a seleção em atividade. Diante disso, Ourinhos teve que contratar atletas para suprir as ausências das “selecionáveis” (Karen, Chuca e Micaela). O time ficou com excesso de alas e isto acabou tirando tempo de jogo e confiança delas quando voltamos de Pequim, desestabilizando a equipe. Some-se a isto o problema no joelho da Lisdeivi (que foi uma referência para o nosso ataque nos últimos anos), que a deixou totalmente sem condições de jogo e o estrago estava feito. Nosso grupo chegou desestabilizado nas finais e o basquete é esporte de precisão. Se a cabeça não estiver boa o rendimento cai assustadoramente. É preciso contextualizar os resultados - não são nomes que ganham jogos, mas sim a soma de muitas variáveis.

- Isso também pode ser dito em relação ao seu trabalho na seleção, concorda? Muita gente lhe critica por causa dos resultados obtidos, sem analisar os métodos.
- Um técnico sempre vai ser elogiado ou criticado pelos resultados que obtém, isto faz parte da nossa profissão e temos que saber receber críticas. Sabíamos que a seleção tinha sido muito reformulada em pouco tempo e isso tornava o rendimento na Olimpíada uma incógnita. Se isso não bastasse, ainda houve problemas com atletas cruciais nas vésperas da competição (ausência da Érika, a lesão da Micaela e a pneumonia da Adrianinha). Tudo isso, somado, fez com que a equipe chegasse nos Jogos sem estar totalmente estruturada. Neste aspecto, a estréia contra a Coréia era fundamental para dar a confiança que o grupo precisava. Aquela derrota na prorrogação complicou muito uma campanha que certamente poderia ter sido melhor. Acho que o grupo chegou mais “inteiro” no Pré-Olímpico e por isso fizemos apresentações melhores lá.

- Duas das grandes críticas que houve em relação ao seu desempenho em Pequim foram: o número excessivo de substituições e a não colocação, por mais tempo, de jovens com bom rendimento (leia-se Franciele e Karen). Como você encara isso?
- Mais uma vez afirmo que as críticas ou elogios são conseqüência de resultado. No vice-campeonato mundial sub-21 em 2003 utilizei um rodízio grande com as meninas (geralmente nove ou dez atletas já haviam participado do jogo no primeiro quarto) e, como fomos bem sucedidos, elogiaram as trocas constantes. A grande diferença é que naquele grupo todas estavam muito bem e as trocas “matavam” os adversários no segundo tempo. Nas Olimpíadas, algumas meninas apresentaram uma irregularidade muito grande e as trocas não estavam programadas. Elas acabaram se tornando freqüentes para tentar encontrar o melhor grupo dentro de cada partida. Sobre as jovens atletas, realmente concordo que Karen e Fran tiveram ótimas apresentações. Hoje, também acho que usá-las mais tempo poderia ter sido positivo, mas optamos por dar segurança para jogadoras mais experientes em busca de uma regularidade que acabamos não conseguindo encontrar.

- Você tem algum arrependimento, algo que considere um erro? A não ida da Natália foi um deles? E como fica a situação da Iziane? Você sabe que toda vez que os resultados não vierem, essa “lebre” será levantada, não?
- Sei e estou preparado para ela. Iziane é uma grande jogadora, isso é indiscutível, e lamentei muito a situação ter chegado àquele ponto, mas acho que não tínhamos alternativa naquele momento. Ela tinha que ser punida pela atitude que tomou e foi o que aconteceu. Quanto a Natalinha, com a vinda da Adrianinha não quisemos mexer na estrutura da equipe e o corte acabou recaindo sobre ela. Confesso que hoje talvez deslocasse a Claudinha em definitivo para a lateral, onde joga mais à vontade, e levasse a Adrianinha junto com a Natália na armação.

- E agora, qual é a saída? Renovar ainda mais a seleção, ou manter o elenco? Nomes como Êga, Mamá e Chuca, além da Claudinha, que já anunciou sua saída da seleção, renderam muito abaixo do esperado em Pequim, e jovens já surgem para, ao menos, serem experimentadas, não?
- Prefiro não citar nomes, até para não causar expectativas, mas teremos um elenco bem diferente daquele que vimos em Pequim. Estamos observando algumas jogadoras jovens e promissoras. E espero que consigamos um número grande de amistosos de alto nível para que tenhamos oportunidade de fazer experiências e preparar o grupo para as futuras competições.

- Falando nisso, muita gente, inclusive eu, diz que o ideal, para você, seria ser exclusivo da seleção, e que essa seria uma boa oportunidade para tal. Como você avalia isso?
- Eu gosto de atuar no dia-a-dia do clube para não perder o ritmo. Não vejo a exclusividade como crucial, a não ser que tivéssemos uma seleção permanente como Cuba e China ou um calendário internacional mais extenso. De todo modo, enquanto isso vou pensando em novos projetos para tocar e vou curtindo a minha família.

- Por projetos, pode-se entender novo time?- É possível, nunca se sabe. Gostaria de tentar algo novo até porque acho que a modalidade precisa de mais equipes em ação, mas não é fácil. Todos nós que passamos a vida inteira lutando pelo feminino sabemos o quanto é difícil, mas cada minuto dessa luta vale a pena.

7 comentários:

Anônimo disse...

Ele praticamente nao comentou o problema com a Iziane. Um tecnico de alto nivel nao pode ficar curtindo magoas, mas tem que tentar uma aproximacao... Todos merecem uma segunda chance... Ate ele proprio esta tendo uma nova oportunidade apesar da vergonha em Pequim.. pq nao a Iziane?? Tecnico de Basquete nao é Deus...

Anônimo disse...

Ele não é nada humilde, sabe justificar-se muito bem. Bom de lábia, mediano como técnico.

Anônimo disse...

Gosto do Bassul e creio que ele ainda fará um bom trabalho na seleção. Não podemos esquecer que de 2006 p/ 2008, perdemos quase todas as titulares e, para piorar, tivemos problemas de corte como Iziane e Erika. Meus conselhos, se é que ele irá ler este blog e gosta de ouvir conselhos são :
-tentar contornar essa situação da Iziane. Ele, que está há muito tempo no basquete feminino, sabe e já deve ter ouvido e visto atitudes parecidas ( eu já vi coisas piores, inclusive partindo de meninas que estavam no time de Pequim ) Não achei muito sábio da parte dele deixar essas picuinhas cairem na midia e fazendo com que o povo, mídia e etc ODIASSEM a Iziane. Por outro lado, gostaria muito que a Iziane tivesse a humildade de pedir desculpas para ele e voltasse para a seleção.
Isso será bom p/ ele, para ela e para o Brasil, que, infelzimente, não conta com tantas jogadoras assim para sair dispensando ninguém.

2) Não caia nessa armadilha de técnico-deus, muito bem exercida pelo Bernardinho.

No resto, é fazer o que ele sabe fazer muito bem que é treinar. Não podemos esquecer que o Bassul ainda não contou com o time inteiro reunido. Fica realmente muito dificil conseguir resultados com tantos desfalques.

abraço ao técnico Paulo Bassul e desejo a ele toda sorte do mundo.

Anônimo disse...

Não é hora para discutir seleção, Iziane, ausência constante da Erika, contusões frequentes da Micaela, o entra-e-sai da Claudinha, os afastamentos da Adrianinha, nem a Majestade do Sr. Bernardinho. Vamos COBRAR sim, uma completa RENOVAÇÂO na CBB (inclusive a saída OFICIAL do Sr. Barbosa) e pensar em seleções de base, incentivo aos clubes para criação de escolinhas e a volta das transmissões pela TV aberta. Mesmo que seja pelo canal REDE VIDA, TV Senado. As grandes emissoras não irão mesmo investir num esporte em crise.
Obrigado BASSUL e BOA SORTE. Precisamos do teu talento, da tua juventude e esperamos pelo teu amadurecimento. Nós basqueteiros sabemos esperar por uma grande virada. Bastidores são como grandes jogos: Luta, suor e emoção!
marbez

fábio balassiano disse...

marbez, parabéns! seu comentário é sublime! vai virar post do blog! show de bola. abs, fábio

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Schin disse...

Eh o seguinte:__ Sou um fa do Basquete feminino no Brasil. Acho que , apesar, de termos uma federacao desogarnizada, temos tb jogadoras de autissimo nivel. Jogadoras essas capazes de derrotar todas as outras selecoes (ai fora), tirando a Americana e a Austrliana que , realmente, estam em outro nivel. Nivel que jah estivemos no passado. Em relacao ao Tecnico da selecao, Bassul, nao acho que ele esta no nivel dessa geracao. No Brasil a tecnicos mais cabaritados para assumir nosso basquete feminino. Como Miguel Angelo da Luz, que chegou na selecao (em 1993)e acabou com crises de relacionamento entre as jogadoras do passado, por exemplo. Demonstrando sua humildade e capacidade de contornar situacoes de mau-estar, como esses. Ou Branca, que tem se mostrado uma tecnica de primeira linha. Haja visto, o grande desempenho mostrado pela sua equipe, na liga nacional. Ela , pelo menos, dirige seu time com coracao! Agora, parece-me que nada mudara ate o mundial. Pois bem, esperemos ate o mundial. Como disse no passado, ficar atraz do Estados Unidos e Australia, tudo bem. Mas amargar uma decima primeira posicao , como foi em Beijing, chegando a ficar atraz de selecoes medilgres como: Nova Zelandia e Mali, tambem jah eh demais!
Estamos de olho!
PS: Desculpe-me por nao ter acentuado as palavras. Nao falo do Brasil e meu teclado nao eh configurado para portugues. Desculpe mais uma vez. A lingua Portuguesa eh linda!