
Não dá para dizer que Tiago Splitter esteja tranqüilo. Na entrevista ao Bala na Cesta na noite desta terça-feira, ele repetiu algumas vezes a palavra paciência, que é o que ele mais precisa no momento em que pouco atua no San Antonio Spurs. Sem mais delongas, confira o papo com o pivô do time texano, que não gosta nem de falar que a lesão na pré-temporada o prejudica agora na obtenção de mais minutos em quadra (“Isso já passou, não tenho como ficar pensando nisso. Tenho que ficar de olho no presente”).
BALA NA CESTA: Hoje será o primeiro jogo seu que será transmitido para o Brasil (às 23h30 pela ESPN Internacional). Está ansioso para o duelo contra o Denver, do Nenê?
TIAGO SPLITTER: Acho que vai ser um jogo legal, principalmente porque na semana passada não pude enfrentar o Nenê porque estava com uma dor na virilha. Se tiver a oportunidade de entrar em quadra será uma emoção legal, e espero que aí no Brasil as pessoas acompanhem.
-- Falando em entrar em quadra, este seu começo tem sido um pouco difícil, não?
-- Sim, tem sim. A palavra-chave para mim agora é paciência, até porque não tenho outra opção. A palavra número 1 é paciência, a dois também, a três idem, a quatro a mesma coisa. Não dá para chegar aqui, na NBA, e chutar o balde, né. Não estou acostumado a ficar tanto tempo de fora, mas faz parte do aprendizado, e tenho certeza que estou no caminho certo.

-- Você esperava que fosse ser tão complicado assim?
-- Cara, vou te ser sincero. Quando vim pra cá, muita gente dizia: “Tiago, esse primeiro ano vai ser ingrato para você. O Oberto veio da Europa e ficou uma temporada no banco antes de ter papel fundamental no título do Spurs no ano seguinte”. E não é que eu não acreditava, mas é que você quer que só passem coisas boas contigo, né. Mas aconteceu isso com o Manu Ginóbili, com o Fabricio Oberto e está acontecendo comigo. É preciso ter paciência, calma, perseverança. Já deu para sentir algumas diferenças entre o jogo da Europa e o daqui, principalmente em relação às arbitragens. No jogo de mano a mano daqui não é permitido tanto contato como é na Europa, e as coisas tornam-se mais difícil. Aqui a palavra é posicionamento. E aqui todo mundo sabe jogar, todo mundo se destaca, todo mundo mata bola. É impressionante!

-- Lembro que no primeiro ano do Manu ele dizia que treinava individualmente mais do que todo mundo. Também acontece com você?
-- Treinos individuais são a minha rotina diária. Aqui no San Antonio há dois técnicos que trabalham diretamente comigo, me ensinando as rotações de ataque e defesa e aprimorando a minha parte técnica. Além disso, minha mecânica de arremesso está mudando um pouco. Não dá para explicar muito bem, mas o meu chute vai acabar se modificando. Estou treinando como nunca treinei, com muita atenção dos treinadores, e o (Gregg) Popovich (o técnico) tem visto isso tudo.
-- Falando em Popovich, muita gente no Brasil tem criticado o cara porque ele não te dá tempo de quadra.

-- Não, não é correto isso. Ele tem quatro títulos da NBA, estamos com a melhor campanha da liga e estou me adaptando aqui. Ele fez assim com o Manu, com o Oberto e com tantos outros, e acho que faz parte da maneira como ele trabalha. É preciso respeitar, entender e procurar seguir o que eles estão preparando para mim por aqui. O Popovich é um cara que está sempre preocupado comigo, me pergunta sobre tudo, quer saber se estou me sentindo bem. Não posso reclamar de nada.
-- Você também concorda com a tese (estou incluído aí) de que mesmo com pouco tempo de quadra você não tem rendido bem?
-- Acho que não poderia ser muito diferente. No Baskonia, todas as jogadas passavam por mim, e a maioria era eu quem tinha que decidir. Aqui, sou coadjuvante, os papéis mudaram, tudo mudou. Está sendo complicada essa transição, mas sei que em dois, três anos poderei ter um papel de destaque na equipe, com jogadas desenhadas para mim, por exemplo. Neste momento que o time está ganhando, só penso entrar e continuar mantendo a boa fase da equipe.

-- Dá para dizer que o Manu Ginóbili tem sido uma espécie de irmão mais velho por aí? E seu antigo tutor na Espanha, o Iñaki Iriarte, tem conversado com você?
-- Sobre o Manu, não tenho palavras para descrever o que ele tem feito por mim. Ele me passa boas energias, dá conselho, me mostra muita coisa. É um grande amigo e o respeito muito. Sobre o Iñaki, temos conversado muito, sim. Ele é experiente, entende do jogo, sabe o que estou passando aqui e sempre me recomenda ter paciência.