quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O melhor técnico da Europa

Quatro títulos da Euroliga (dois pelo Bologna, dois pelo CSKA Moscou) levaram Ettore Messina ao maior desafio de sua carreira. Aos 50 anos, o italiano agora comanda um Real Madrid que tem um objetivo “simples”: voltar a dominar a Europa como não acontece desde as décadas de 60 e 70. Por isso o clube merengue foi ao mercado, trouxe dez reforços e aquele que melhor sabe cuidar de jogadores no continente: ele mesmo, Messina, talvez o técnico mais estudioso, dedicado e obcecado por treinamentos que exista (“talento, trabalho e coração” foram as suas primeiras palavras na coletiva de apresentação). Nesta entrevista, ele fala sobre o começo no Madrid, das diferenças entre o basquete espanhol e os outros que já dirigiu e sobre as expectativas para a temporada.

BALA NA CESTA: Apesar das derrotas recentes (para o Barcelona inclusive), você esperava ter um sucesso tão imediato (12-4 na ACB e 6-2 na Euroliga) com uma equipe tão nova e com dez contratações de uma temporada para outra?
ETTORE MESSINA: Começamos a temporada muito bem, ganhando partidas de maneira consecutiva, mas logo as lesões começaram a afetar o rendimento da equipe. Agora precisamos voltar a pegar o ritmo pouco a pouco para recuperar os jogadores que estão lesionados. Mas, de verdade, não esperava tantas vitórias neste começo.

-- Após ter dirigido na Itália e na Rússia, já consegue perceber as diferenças entre o basquete espanhol e dos outros dois países?
-- O basquete é um esporte igual em todos os países do mundo, mas é óbvio que há diferenças com relação a características, cultura local, expectativa, interesses, realidades econômicas e qualidade das equipes envolvidas. Mas estou certo de fazer parte, agora, de uma das maiores ligas do mundo, levando em conta os fatores acima.

-- O Real, seu time, atua com quase 11 jogadores por partida, não tem ninguém que arremesse mais de dez bolas por jogo e tem rebotes e assistências bem divididas na Liga ACB. Além disso, possui um dos ataques mais potentes (77,3), é o que menos erra (12,6) e conta com uma defesa pouco vazada (71,1). O segredo do basquete moderno é, definitivamente, defender com potência, atacar com responsabilidade e “proteger” a bola a todo custo?
-- Sem dúvida alguma. Todos os aspectos que você comentou são muito importantes para que tenhamos um time constante, e com potencial para disputar as 80 partidas da temporada (somando Euro, ACB e Copa do Rey). É muito importante ter um banco de reservas amplo, profundo, com opções, para que as lesões, que sempre acontecem, sejam menos prejudiciais ao longo das competições. De todo modo, a maneira com que jogamos deve ser a mesma sempre, e passa muito pelo que foi citado na pergunta.

-- Você é reconhecidamente um dos técnicos com mais cargas de estudos que existe. Como você se mantém atualizado depois de tantos triunfos em sua carreira?
-- Parece que quando você ganha títulos, sua única opção é continuar vencendo. Não pelo presente, mas para justificar o passado e o que conseguiu. Entendo que esta é a maneira das pessoas pensarem, viver o esporte, mas acho que ninguém deve exigir mais dos outros do que a própria pessoa. Trabalhando em alto nível, porém, o que posso te dizer é o seguinte: vencer é uma questão que não depende só de mim, mas se eu não me atualizar e estudar, estou morto para a minha profissão, principalmente para o alto nível.

--Por fim, te pergunto sobre a sua impressão do basquete brasileiro na atualidade. Para um italiano que cresceu vendo as glórias de Oscar e Marcel, qual é a sensação de quem vê as Olimpíadas sem a presença do nosso país?
-- Não sigo os campeonatos nacionais daí, mas vejo os brasileiros atuando na Europa e na NBA. Fiquei feliz recentemente com a classificação ao Mundial que vocês conseguiram com o Moncho Monsalve como técnico, e espero que daqui por diante isso se repita para que possa revê-los em uma Olimpíada. Afinal o Brasil é um dos países mais tradicionais do basquete.

10 comentários:

Thiago Anselmo... disse...

Bala, muito boa a entrevista. Gostei das palabras desse tecnico, principalmente da resposta da quarta pergunta: "... mas acho que ninguém deve exigir mais dos outros do que a própria pessoa..."

Belas palavras.

Abraços

F. Carvalho disse...

"Afinal o Brasil é um dos países mais tradicionais do basquete."

Pobre tradicao tao maltratada...

Legal a entrevista, Bala. Principalmente a parte da constante atualizacao. A todo instante ficava lembrando da entrevista com o Bernadinho... só estudo e trabalho sério levam a alguma coisa, nao? Que os treinadores tupiniquins aprendam a receita!

Abraco

Magal disse...

Só lendo esta entrevista ja da pra entender por que o Messina é tão vitorioso.... Otimo post Bala Parabens !!!

PauloRJ disse...

Muito boa entrevista Bala. Espero que os nossos técnicos tenham oportunidade de lê-la também...

Jalber Rodrigues disse...

Ótimo exemplo para os amates do basquete, juntando com grandes tb como Bernardinho e um tal de Jordan desafios e muito estudo são motivos para se manter no topo... pois como disse o proprio jordan, quando se chega ao topo da montanha você deve defende la pra se manter no topo...logo para os técnicos estudar, atualizar é que vai mante los la no topo da montanha...
parabéns pelo belo exemplo que você trouxe pra gente bala!!

Guilherme de Paola disse...

Parabens pela entrevista.
Realmente faltam profissionais assim na CBB pra comandar o nosso basquete!

Giuliano disse...

É incrível como o discurso do Messina é parecido com o do Bernardinho, não?
Bela entrevista, Bala. Parabéns, deu show.

fábio balassiano disse...

aos amigos que comentaram aqui, eu agradeço pelas palavras.
acho que todo mundo sabe que sou fã do messina, e entrevistar foi um orgulho muito grande pra mim, até pq o cara não fala com muita gente.

Sem dúvida os discursos de Bernardinho e Messina se parecem, porque ambos são estudiosos, gostam de treinar muito e são atualizados. e os dois, acima da média mesmo!

abs, fábio balassiano

Colin Foster disse...

muito legal, é bom ler entrevistas com gente diferente dos comuns aqui do brasil, que tem respostas cada vez mais iguais às de jogadores e treinadores de futebol...

o messina deveria servir de inspiração para todos, é um estudioso e, automaticamente, um vitorioso. sem contar a honestidade e ética que ele transparece nas palavras, algo em falta por aqui...

profissionais estudiosos e investimento na base: a simples receita para o sucesso!

Anônimo disse...

Parabéns Bala, ótima entrevista. Vocês perceberam como ele foi um "gentleman" ao dizer que o Brasil se classificou com um técnico de fora. Foi sutil, mas deixou seu recado bem direitinho...