
Édson Ferreto está diferente. De acordo com ele mesmo, “mais calmo, menos bravo”. Mas o “velho” Ferreto no minuto seguinte: “Mudei, mas não estou contente, não. Tem vezes que eu mesmo me olho e não me reconheço. Quem me conheceu antes, aquele cara turrão, hoje diz que sou bem tranquilo”. Campeão de um Nacional pela primeira vez com Catanduva, cidade que conhece desde 1977, quando, aos 25 anos, tornou-se campeão como treinador pela primeira vez, ele conversou com o Bala na Cesta sobre o título, a polêmica com Hortência (uma de suas atletas na década de 70 aliás) e muito mais.
BALA NA CESTA: Ser campeão de um Nacional pela primeira vez tira, de uma certa forma, um peso de suas costas?
ÉDSON FERRETO: Não, não. Tenho consciência de que Ourinhos, sempre com muito dinheiro, montava o melhor time e ganhava. E no basquete não tem zebra, né? Neste ano, pela primeira vez, falei que poderia disputar com Ourinhos. E disputei. Mas, de verdade, não tem esse peso. Gosto de trabalhar, formar um time legal, competir. Ganhar ou não faz parte de uma série de outras conjunturas.

-- Você falou do poder econômico de Ourinhos. Qual é a saída para termos um Nacional atrativo, e como você avalia esta edição do torneio? -- Eu não acho que é bom o que aconteceu em Ourinhos. O time sempre escolheu as melhores jogadoras, e pagou acima do que o mercado oferece por elas. As propostas eram sempre muito fortes, anormais. Por isso acho que o ranking é necessário. Sobre o Nacional, acho que pela primeira vez tivemos quatro boas equipes. Mas todos tiveram muito gasto e sacrifício. E ninguém acompanha o campeonato, né, porque é tudo muito rápido. Para o patrocinador fica péssimo, e para quem acompanha fica ruim também, porque não tem noção de nada. Não foi um Nacional excepcional, claro. Esse lance de ir de ônibus é uma loucura, coisa de esporte amador. E ainda ficamos naquela tensão de chegar na hora do jogo, de descansar no próprio ônibus. Não dá para exigir o máximo das jogadoras.

-- Mas até que ponto os clubes são culpados por esta estrutura tão deficiente? Não deveria ser feita uma cobrança mais forte na CBB? -- Não sei se é culpado, mas o clube sempre engole o que se fala. É simples: se não cumprir o que a Confederação fala, não joga. Tentaram fazer Liga, e não deu nada. É assim e sempre foi. Não mudam nada há séculos, e a gente vai engolindo. Por que patrocinar uma equipe? Não tem retorno algum, pô!
-- Dentro de quadra, o maior destaque do seu time foi a Gilmara, que nunca é lembrada nas seleções. Alguma coisa a dizer sobre esta atleta?
-- A Gil fez isso tudo que agora vocês vêem em Uberaba, só que lá ela estava escondida. O melhor campeonato dela foi lá, e pouca gente se lembra. Não pensar na Gil para a seleção é inacreditável. Como que não olham essa menina? Já tive pivôs de 1,80m, 1,85m, e que rendiam. Esse lance de altura é relativo. A Silvia jogou ala-pivô na seleção recentemente. Não adianta ser a maior. Tem que ser a melhor.

-- E o lance com a Hortência, você não acha que os dois passaram do ponto?
-- A Hortência, para mim, é mal agradecida. Ela é a dona do basquete feminino, e pode colocar quem quiser por lá. Mas não precisa falar mal de quem está trabalhando no dia a dia. Ela mal nos conhece, não sabe das nossas dificuldades, do que precisamos. Sinto que as pessoas não valorizam o que existe de bom. Não tenho nada contra ela, mas ela foi infeliz no que disse.

-- Mas e o fato de ela chamar os técnicos brasileiros de desatualizados. Isso não procede?
-- Ela não sabe, como que ela pode falar sobre isso? Onde que ela viu e ouviu isso? Para falar tem que ter base, fundamentação. Falar aquelas besteiras, de ficar viajando, isso não existe. Quem é que aprende vendo jogo? Tem que ver treinamento, clínicas, ler livros, essas coisas. Sou técnico, nunca estou sem time, mas sei que se precisar da Hortência não vou conseguir nada. Como que ela pode falar de mim?
-- Uma das coisas que mais falam é que seus times são desorganizados porque atuam de

maneira feroz no contra-ataque, sem responsabilidade alguma. O que você acha disso?
-- Isso é bobagem. É apenas o meu jeito. Sempre treinei assim, e confio nessa maneira de atuar. Isso é treino, não é bagunça. A Hortência jogou muito comigo (cinco anos) e sabe disso. Sou fã de contra-ataque. Se eu for ver uma partida dessas da Rússia, aquela coisa feia, eu durmo. O Brasil tem um estilo, e acho que precisamos ser respeitados.