terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Freud explica

É difícil não ouvir os suspiros depois que Raphael Zaremba, espécie de "muso teen" das jovens meninas do basquete do RJ, passa por qualquer local. Mas o mais legal de reparar é que além de todo o charme (que ELAS enxergam) existe uma das melhores cabeças do basquete carioca. Psicólogo e técnico de formação, ele, que tem 32 anos, há oito comanda com maestria o projeto da VemSer ( www.vemser.org.br/ ), ONG que conjuga esporte (o técnico conseguiu seu primeiro título, com o mirim, nesta temporada), educação (várias de suas ex-atletas estão na faculdade) e psicologia (atrás da quadra do clube Germânia há uma sala com monitores). Por isso o blog decidiu conversar com ele, que ainda encontra tempo para ser professor universitário e clinicar em consultório, e o papo ficou bem legal. Confira!

BALA NA CESTA: Quem é o técnico Raphael Zaremba?
RAPHAEL ZAREMBA: Rapaz, que pergunta difícil... Ainda mais para um psicólogo! Bom, se você quiser a versão super resumida, eu posso responder com um simples “sou eu”. Mas, como isso não diz muita coisa, vou tentar ser um pouco mais específico... Acho que posso dizer que sou uma pessoa bastante positiva, alegre e agregadora, que gosta de utilizar o humor como forma de criar ambientes agradáveis por onde passa. Apesar de trabalhar em diversas frentes, sou apaixonado por tudo o que faço e, por ser muito exigente comigo mesmo, me entrego de corpo e alma a todas as minhas atividades. Além disso, acima de tudo, eu sou uma pessoa que gosta de ajudar os outros a transformarem as suas próprias vidas.

-- O que leva alguém a dividir a psicologia com o basquete?
--Bom, o que me motiva a fazer isso é o fato de eu ter como principal objetivo de vida auxiliar as pessoas no seu processo de crescimento pessoal. Acredito que a minha prática como psicólogo clínico e esportivo, e como professor universitário, já me daria a possibilidade de alcançar, em parte, este objetivo. Agora, como técnico de basquete eu sinto que tenho a possibilidade de participar mais ativamente do processo de formação das minhas atletas como pessoas e ajudá-las a transformarem suas próprias vidas. Então, no fundo, acho que nos dois casos a motivação e os objetivos são os mesmos.

-- Eu imagino que a VemSer tenha lhe trazido mais alegrias que frustrações, mas gostaria que você contasse da sua satisfação pessoal, mais do que profissional, com o projeto.
-- Sem dúvida me traz muito mais alegrias do que frustrações, tanto que há 8 anos eu luto com todas as minhas forças para tocar o projeto adiante. É até difícil explicar a satisfação que eu sinto, por exemplo, ao ver uma ex-atleta minha (que ingressou no projeto com 13 anos e hoje está com 20), ex-moradora da Rocinha e aluna de escola pública, ter ganhado uma bolsa de estudos em uma escola particular – onde concluiu o ensino médio e ainda se sagrou campeã brasileira estudantil de basquetebol –, estar hoje cursando a faculdade de Psicologia na PUC-Rio (onde foi minha aluna – imagina a minha emoção quando ela entrou na minha sala de aula pela primeira vez), e ter retornado ao projeto este ano para atuar como voluntária. A satisfação pessoal de perceber que estou podendo contribuir para a formação e o crescimento desta e de outras tantas meninas, que serão as mães de amanhã, é algo totalmente indescritível. Por isso, me perdoe, mas não vou nem me atrever a tentar responder esta pergunta...

-- Quais são as vantagens esportivas quando se alia o projeto à educação? E as desvantagens?
-- Não sei se eu colocaria em termos de vantagens e desvantagens. Apenas temos uma filosofia e uma visão do esporte diferente da corrente e, por isso, nosso foco não está, única e exclusivamente, no resultado final de uma partida. Acreditamos que o principal objetivo do esporte de base é transmitir valores e lições de vida, e é nisso que investimos o nosso tempo e esforço. Por isso, pode-se dizer que o projeto desenvolvido pela VemSer tem um cunho mais educacional do que esportivo, apesar de utilizar o esporte como veículo principal. Ainda assim, os resultados que nossas equipes vêm obtendo nas competições que disputam, e o título estadual de mirim que nossas atletas conquistaram este ano, parecem provar, de uma vez por todas, que não é necessário aderir à ideologia do “vencer-a-qualquer-custo” para obter resultados dentro de quadra.

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JOGO RÁPIDO
Maior emoção dentro de quadra: A conquista do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais Juvenil em 2006. Foi o primeiro, e único, título do Rio de Janeiro na competição e ele foi conquistado com uma vitória sobre um time de São Paulo que era a base da seleção brasileira da categoria. Ninguém, além de nós, acreditava que aquela vitória fosse possível. Foi realmente um momento bem marcante.
Uma frustração: Não ter conseguido repetir a conquista na minha primeira experiência como técnico principal esse ano, com a seleção estadual sub-15 (em 2006 eu era assistente técnico). Dessa vez, eu tive que me contentar com o bronze. Mas eu ainda pretendo voltar em outra oportunidade para buscar esse ouro que escapou...
Uma referência no basquete: Guilherme Vos. Talvez o melhor técnico com quem eu já tive a oportunidade de trabalhar.
Atleta que mais lhe marcou: Magic Johnson
Uma mania: Não deixar comida no prato e ficar virando a lata de refrigerante até que a última gota esteja no meu copo. Freud explica! Hehehe...
Um livro: Só um?! Eu poderia citar vários... Bom, para facilitar, vou ficar só em livros sobre basquete: “Magic’s Touch” e “Minha vida”, ambos do Magic Johnson; “They call me coach”, do John Wooden; e todos os do Phil Jackson, especialmente o último, “The Last Season”. Excelente!
Uma música: “I believe I can fly”, R. Kelly.
Um filme: “Sociedade dos Poetas Mortos” e “À procura da felicidade” – tá bom, são dois... Mas é tão difícil escolher um só!
A bola que eu vi chutarem e caiu: Aquela do Magic Johnson no final do All-Star Game de 1992. Confesso que cheguei a chorar de emoção... Ah, a da Karina, de Americana, agora na semifinal do Nacional Feminino contra Catanduva também foi sensacional.
Jogo inesquecível: Além da final do Brasileiro de Seleções de 2006 e do All-Star Game de 1992, que mencionei anteriormente, posso destacar também a final do Mundial Feminino vencido pelo Brasil, em 1994. Agora, você vai me desculpar, mas eu não posso deixar de citar também alguns jogos das minhas atletas, como as duas partidas da final do Estadual Mirim feminino deste ano e o primeiro jogo da semifinal do Estadual Infantil do ano passado, quando tiramos uma diferença de 17 pontos no placar em pouco mais de 7 minutos para vencer, na prorrogação, o Botafogo, que não perdia um jogo há dois anos. E isto tudo dentro do ginásio delas. Incrível!
Um grande rival: Vale repetir? Guilherme Vos. Por admirar tanto o trabalho dele, é motivo de orgulho quando consigo derrotá-lo...
Um sonho: Como técnico, chegar um dia à seleção brasileira e participar de uma Olimpíada.

6 comentários:

Bert disse...

Sensacional!

Parabéns de novo, Bala!

Anônimo disse...

Balassiano, parabéns pela reportagem, esse cara é realmente sensacional.

Rapha, tenha certeza que além de inspirar suas atletas e alunas(os), você insipira seus amigos. Vou estar no ginásio assistindo a final olímpica quando você for técnico.

Abraço.

fábio balassiano disse...

valeu, ricardo. o rapha merece tudo de bom. abs, fábio

Verônica Taquette Vaz disse...

O Rapha é uma pessoa sensacional!!
Adimiro muito ele, e torço pelo seu sucesso.
Parabéns pela reportagem!

Unknown disse...

Em 2001, comecei a jogar com o Rapha quando tinha 12 anos, na 7a serie, e joguei até o final do 3o ano. Enfim, vi o trabalho dele, como ainda vejo, desenvolver de forma absurda.

Se ele é um muso-teen, eu já não sei, mas que ele ele vende sua figura bem, ele vende - também, pudera, sendo renomado professor de Empreendedorismo da PUC...

Brincadeiras a parte...

Vi a quantidade de vidas que ele realmente mudou, deu uma chance de estudos, faculdade, amizades, conversas e mudanças para muitas meninas que talvez não saíssem do ensino fundamental.

Ele conseguiu equilibrar o ambiente esportivo, com o pessoal e o educacional de forma excelente.

Com ele, aprendi a perder (por 100 pontos e por 1) e a ganhar (por 100 e por 1). Aprendi a ter confiança em mim e passar isso para minhas companheiras de time.

Conheci gente e fiz amizades que nunca teria feito se nao tivesse entrado no basket. Tenho lembranças de viagens, de ataques de risos, de trsitezas e de conversas (boas e ruins)... que eu jamais esquecerei.

Hoje, transito em meios do preto ao branco, e nao tem diferenca, pelo menos nao tem barreira sócio-economica.

E o Rapha conseguiu construir isso para mim e para todas as meninas que beneficiaram deste projeto de vida maravilhoso, que para mim foi e sempre será um grande familia.

Minha mãe sempre diz, se o todo mundo fizesse para uma pessoa o que o Raphael fez por 100, estaríamos numa situação muito melhor.

Parabens Rapha, que seus sonhos se realizem como você fez com que os nossos se realizassem.

Anônimo disse...

necessario verificar:)