quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Campeão do mundo procura

Pepu Hernández completa, nesta quinta-feira, 53 anos. Pela primeira vez no Brasil, ele está em São Paulo, onde ministra clínica para jovens jogadores (hoje é o último dia, aliás), ele vive uma situação inusitada: pela primeira vez em sua carreira fica tanto tempo longe de um clube ou de uma seleção. Nada que assuste este madrilenho, que em 2006 levou a Espanha ao título mundial. Por telefone e esbanjando simpatia, Pepu conversou com o Bala na Cesta.

-- BALA NA CESTA: Como está a clínica em São Paulo? O número de treinadores está dentro do que você esperava?
-- PEPU HERNÁNDEZ: Estou gostando muito, de verdade. Os jovens demonstram uma enorme vontade de aprender, escutam tudo com muita concentração e têm uma energia incrível. Sobre a questão dos técnicos eu não posso falar, porque não vim com expectativas. Mas há treinadores por aqui que acompanham tudo, e depois de cada treino eu vou lá e troco uma idéia com eles. Eles são muito receptivos e têm um desejo muito grande em trocar informações e compartilhar as suas experiências. Acho que isso é uma boa notícia, não?

-- E como tem sido este contato? Você consegue detectar alguma característica especial nas conversas.
-- Sim, consigo. Quase todos me perguntam sobre a formação de jogadores e a maneira como trabalhamos com os jovens – duas grandes características da escola espanhola nos últimos anos. Tenho a mesma impressão que possuía antes de vir para cá: o Brasil tem uma tradição imensa no basquete, passou recentemente por um período não muito brilhante, mas tenho certeza que em breve vocês figurarão de novo no primeiro escalão da modalidade porque têm um potencial muito grande (não só com os atletas, mas nas comissões técnicas também).

-- Mas e então, como se dá essa formação dos atletas? Muito se fala sobre a capacidade da FEB em capacitar técnicos e jogadores.
-- A Federação é a mãe de tudo isso, sem dúvida. É ela quem dá todo o suporte necessário, mas sem os clubes o basquete espanhol não seria nada. Nada! Falo das agremiações da ACB, das LEB’s (Ligas de Acesso) e das divisões de base. Reduzir o trabalho dos clubes a um “ah, a FEB é excelente” seria cruel e injusto. São os técnicos das divisões inferiores que formam os atletas no dia a dia, que ralam muito e que desenvolvem os jogadores para que os técnicos de seleções os escalem depois. Posso te garantir que quase todos são incrivelmente competentes, determinados, estudiosos, disciplinados e cientes de suas responsabilidades. Sei disso porque fui um destes técnicos de times principais, e se não fosse a turma do Barcelona que lapidou o Pau Gasol na juventude, eu não o teria dirigido em 2006...

-- Mas a formação é importante, não? Os “produtos” que vemos na ACB e NBA são incríveis...
-- Sim, são inacreditavelmente bons. Mas são os produtos finais de um trabalho muito meticuloso dos clubes. Sobre a formação, bem, para mim o mais importante para mim é a inteligência para atuar em uma quadra de basquete. Acho que essa é uma qualidade que a grande maioria dos espanhóis, hoje, possui. É só ver os freqüentes elogios que os irmãos Gasol recebem em relação a isso na NBA. Creio que potencial físico, técnica, habilidade e domínio dos fundamentos sejam importantes, mas, para mim, tudo isso é “ensinável”. Você pode ajudar um jogador de 20 ou 35 anos a passar, mas não pode fazer muita coisa com um que não entende o jogo. E entender o jogo não é simplesmente entender do aspecto de quadra, mas dele como um todo. Entender, por exemplo, que ele, atleta, é importante para o time, que o time é importante para ele e que, no final das contas, os dois crescem ao mesmo tempo. Isso é fundamental. Por isso considero que, na formação, o essencial é ensinar o jovem atleta a pensar, e não dizer o que ele tem que fazer o tempo todo. Quanto mais capacidade “intelectual” ele possuir, mais chances ele terá de aproveitar o que a quadra lhe proporciona.

-- Mudando um pouco de assunto. Você acabou ficando muito marcado pelo título Mundial com a Espanha, em 2006. Como foi dirigir aquele time, e chegar ao lugar mais alto do pódio?
-- Tenho muito orgulho do título do Mundial, mas também do vice-campeonato europeu do ano seguinte. Pode parecer pouco para o público, mas conseguir um ouro e uma prata em anos seguidos não é fácil. E é por isso que me orgulho de fazer parte de uma geração tão vitoriosa. A expectativa era muito alta quando assumi, e tinha medo que a parte psicológica jogasse contra nós. Mas aquele grupo foi aquele que, sob meu comando, mais perfeitamente conjugou algumas características importantes: preparação adequada, comprometimento, atitude altruísta, excelência técnica e espírito de luta. Fomos, realmente, uma grande equipe.

-- A sua saída da seleção foi um pouco confusa, não?
-- Sim, foi. Mas o fato é que havia comunicado, em 2007, que deixaria o comando da seleção ao final das Olimpíadas porque queria um ano de descanso antes de voltar a dirigir um clube. A Federação Espanhola, no entanto, não pensou assim e começou a procurar o seu caminho. Conforme disse a amigos, trabalhar com a seleção durante dois ou três meses é excelente. São os melhores jogadores, a melhor estrutura, os melhores tudo. O problema são os outros nove ou dez meses do ano, em que você precisa lidar com os dirigentes...

-- E o seu futuro, como está?
-- Depois que saí da seleção, em 2007, me prometi um ano de descanso com a família, e eu cumpri isso. Mas na verdade achei que estaria trabalhando nesta temporada, o que, na realidade, acabou não acontecendo. Houve alguns convites de seleções, mas quero mesmo é voltar a dirigir clubes, ter o contato diário com os atletas. Seleção é muito bom, mas são apenas três meses trabalhando. Para quem é viciado em desenvolvimento de jogadores é muito pouco.

22 comentários:

Anônimo disse...

Trabalho intelectual..... ¿¿¿BRASIL???

Fábio Carvalho disse...

Messina, Pepu... poxa, trabalho de primeira, Bala!
O melhor da entrevista foi o "viciado em desenvolvimento de jogadores". Que essa moda pegue no Brasil!
Abraco!

Anônimo disse...

Excelente entrevista! Ainda estamos a alguns degraus de conseguir aplicar plenamente essa filosofia: "ensinar o jovem atleta a pensar, e não dizer o que ele tem que fazer o tempo todo". Quando chegarmos a esse ponto, Pepu tem razão, voltaremos a assumir um lugar no primeiro escalão.
Parabéns Bala.

Anônimo disse...

Em todos esporte coletivo, o que se precisa é, antes de tudo, saber ler o jogo.

Não é raro vermos jogadores com muito talento por aqui, mas que partem pra uma definição inadequada por não terem lido corretamente o momento.

Jander Marques disse...

Concordo com você Técio... eu tenho visto isso em todos os esportes que eu acompanho... que dizer, com exceção do Volei que é bem organizado e fornte aqui no Brasil...

Glauco Nascimento disse...

Excelente entrevista Bala, gostei muito do que ele disse! A parte que ele fala que prefere clube que seleção mostra bem o quanto ele gosta do desenvolvimento de atletas.

Jalber Rodrigues disse...

Como eu, acho que muitos gostariam muito de ter estado la! Mas devido a diversos fatores isso não foi possível. Então fiquei pensando!!! Já que a intenção da CBB é melhorar a qualidade dos técnicos do Brasil, será que não seria interessante disponibilizar experiências desse intercâmbio tão valioso aos que não conseguirão ir?
Bom já que o bala converteu mais uma de três com essa entrevista pensei também em iniciar uma campanha aqui, aproveitando a credibilidade do blog.
Todos aqueles que desejam ter materiais desse encontro que se manifestem aqui num post especial que o bala vai fazer, não vai bala? rs. E quem sabe que com um recorde de acessos no blog o bala envia isso pra CBB e comove a turma la!!
Bala tudo com um tom de brincadeira mas muito sério!! topa a empreitada?

no mais Parabéns por mais uma bela entrevista!
abs

Anônimo disse...

Bala, sabe informar se tem algum hotsite com algum conteúdo dessa clínica?

fábio balassiano disse...

jalber, o blog está aberto.
podem mandar o que quiserem.


abs, fábio

Duda 11] disse...

Bela entrevista Bala! Gostei da parte que ele fala: "o problema são os outro nove meses com os dirigentes..." ô raça complicada do esporte! rsrss

Kátia de Araújo disse...

No treino própriamente dito praticamente nada de novidade.
•Limitar os dribles,
•Ocupar espaços,
•Jogar sem bola,
•DEFESA, MUITA DEFESA...
Porém sua fala empolgante, contagiante e sábia. Sua atitude envolvente, concentrada e presente em todoas as ações, com certeza são armas para tanto sucesso e conquistas.
Segue algumas frase prontas, ditas com olhos vibrantes e presentes em todos os movimentos ensinados.
•OS TÉCNICOS TEM QUE PENSAR EM VENCER NO TREINO.
•Vencer no jogo é consequência de trabalho bem feito.
•Se vence no treino resolvendo os problemas, bucando soluções e se responsabilizando por tudo que acontece com a equipe.
•O técnico quando é autocrata poda a iniciativa do atleta de criar e resolver os problemas.
•Técnico tem que oferecer possibilidades distintas NÃO A SOLUÇÃO
•É necessário assumir responsabilidades, aprender a resolver os problemas.
•Toda a quadra é para defender, não dar tempo para adversário pensar.
•Marcar os 24 segundos, não somente nos útlimos segundos quando não dá mais para mudar a ação do adversário ou quando este já chegou próximo da cesta.
•As linhas da quadra são companheiras, estão presentes para ajudar na defesa.
•Os pés precisam trabalhar rápido, mas a MENTE mais veloz ainda.
•Não se consegue resolver todos os problemas ao mesmo tempo, por isso é necessário eliminar os riscos maiores.
•A diferença está nos repertórios dos movimentos, SABER USAR OS PÉS.

Kátia de Araújo

Anônimo disse...

Nada de novidades Katia?Então por que suas atletas não Limitam os dribles? Não Ocupam melhor os espaços?Não Aprendem a jogar sem bola? Não usam mais técnicas defensivas?
Suas atletas quicam demasiadamente a bola e também jogam em cima de condicionamento fisico superior. E ainda fala que não teve nada de novidade!!Então vamos começar a utilizar esses conceitos antigos aí!

Anônimo disse...

7 na seleção e vc?
hahhahaa

Anônimo disse...

MEU DEUS, não sabe interpretar texto, melhor ficar quieto e inveja é fogo, pode até matar, cuidado!

citado a essência do trabalho,

Kátia de Araújo disse...

verdade excesso de drible desde a categoria MINI, olha a prova neste video: http://www.youtube.com/watch?v=4aldqbTeT5o&feature=player_embedded

Kátia de Araújo

Anônimo disse...

Katia
A unica coisa que estou vendo nesse video são atletas com fundamento ruim, com maior força fisica e que marca pressão quadra toda contra outra equipe bem mais fraca.Deveria ter vergonha disso!
Fundamentos não é simplesmente ensinar uma atleta a driblar com a mão esquerda e fazer bandejinha com as duas mãos. Além do mais os movimentos são muito ruins. A começar pelo lance livre no inicio do video. Tenho que concordar que é força fisica mesmo.

Anônimo disse...

Assistiu o video... Vou assistir também...
Isso foi final do Paulista, então não era tão fraca assim

Sucesso,
e faça melhor!

Anônimo disse...

Força física?? meninas de 9, 10, 12 anos de idade?
Sabe o que é puberdade?
que a força vem com a maturação biológica? ou tem cref provisionado?

Bom,
sei que esse time fez 32 jogos (Paulista e Estadual) e teve uma derrota, ainda que foi no primeiro jogo do play off da paulista, para esse time que vocë diz mais fraco. 2X1 o paulista e 3x0 no estadual.

No ano desse video, temos melhor jogadora, melhor técnica e cestinha da competição

a única pressão no jogo foi no final do quarto, afinal, o segredo é encarar cada jogo e cada momento como se fosse único. Não olhar para o adversário e sim para os objetivos traçados...Quem marcou pressão o jogo inteiro foi o Santo André.
Vejo no video
* explorar os espaços
* minimizar os dribles
* Defesa (que inclui pressão nos momentos necessários)
* Bandeja de direira e esquerda, feitas por meninas de mini, onde muitas de mais de 15 não fazem. Na categoria Mini, é isso, fazer o mínimo, MAS, bem feito! NOSSA, contei o segredo, agora tenta alcancar os mesmos resultados!

Nesse time, tem Tássia, Tatiane , Patricia (atletas de seleção Brasileira e importantes para equipes que atuam até o momento).

Se acha que é fisico, teste esse hipótese e veja se alcança os mesmo resultados.

Anônimo disse...

Kátia

Voce montou mais algum time desse nível depois deste feito?Senão eu também passo a duvidar da sua capacidade. Técnico bom não é técnico de uma só temporada. Até porque "tássias" não aparecem todo dia. Parei pra pensar e acho que vc está querendo levar os louros das meninas.
A não ser que vc conseguiu se manter no mesmo nível de titulos depois disso. Mas a Tássia por exemplo já está com 18, e eu sei quem vc é por causa dela!
Muito suspeita vc. Passe a citar exemplos mais recentes de vitorias e conquistas.

fábio balassiano disse...

gente, nao é melhor parar com essa discussão?
já deu, né...

abs, fábio

Kátia de Araújo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

6 finais paulista e 4 estaduais. 3 anos melhor técnica.
Então não foi técnica de uma temporada


Kátia está fora agora, mas está fazendo trabalhos grandiosos, que envolve massificação do basquete nas periferias de São Paulo
Assinado: Fã