terça-feira, 4 de agosto de 2009

O comandante Vanderlei

Vanderlei falou com o blog com uma incrível tranquilidade para quem acabou de jogar não faz dois meses e hoje assume uma função importante no basquete brasileiro: coordenar todas as categorias de base da CBB. Com sua filha de oito meses no colo, o ex-camisa 6 do Bauru, São Bernardo, entre outros times, conversou com o Bala na Cesta sobre suas funções e metas nesta nova empreitada.

BALA NA CESTA: Qual a sua função na CBB? Seu cargo é idêntico ao da Hortência no feminino?
VANDERLEI: Não participei da contratação da Hortência, mas serei coordenador técnico das seleções brasileiras de basquete. Minha função não é administrativa, e sim estritamente técnica. Meu lance vai ser cuidar dos aspectos “de quadra” mesmo.

-- Qual a experiência que você traz para o cargo, e qual a sua principal missão?
-- Não sou formado – estou cursando administração -, e vou me esforçar para conseguir o diploma porque sei que é importante. Em outubro, logo após a Copa América, embarco para Los Angeles, onde ficarei 45 dias fazendo um curso voltado para formação de elencos na UCLA. De todo modo, já trabalho com este tipo de montagem há dois ou três anos, desde que a ULBRA interrompeu as suas atividades. Minha principal missão no cargo, agora, é classificar o Brasil para o Mundial. Vamos com os pés no chão, mas temos que pensar grande. Não tem jeito: esporte de alto nível vive de resultados e não temos conquistado os melhores nos últimos anos. Mais para frente teremos que reformular os trabalhos na base, unificar os discursos, trazer todos para a mesma linguagem. É assim que penso em trabalhar. No começo sei que vou errar, mas sempre estarei de peito aberto para aprender e acertar da vez seguinte. Comigo vai ser assim: estou aberto ao diálogo, porque acredito que neste momento o basquete não pode se privar de nenhuma idéia. Nenhuma mesmo!

-- Sobre a seleção adulta, como você avalia o trabalho, e o que você acha que precisa ser feito?
-- Faz pouco tempo que acertei (uma semana), mas já conversei com o Neto, com o Moncho, com o Brunoro (diretor de Marketing) e com o Carlinhos (Nunes, presidente da CBB). Temos muito a fazer. Não estamos fazendo tudo errado, mas os resultados mostram que temos tido dificuldade em torneios de alto nível. As categorias de base, por exemplo, quase não participam mais de Mundiais, e quando participam têm dificuldades. Quando isso acontece, alguma coisa precisa ser feita, não?

-- E a sua primeira experiência com a seleção adulta, como tem sido? É diferente ver o jogo do lado de fora, não?
-- Sim, completamente diferente. Estou tentando colocar o grupo que treina aqui no país falando e pensando da mesma forma. A minha geração não tinha tanta qualidade técnica quanto estes caras aqui têm – eu, por exemplo, era limitadíssimo, e sei disso. É inacreditável o potencial físico e técnico que essa geração possui. Os treinos mostram isso. Por isso acho que eles precisam estar focados, comprometidos e, claro, atuando com alegria.

-- Existe algum modelo que você pretende seguir na CBB?
-- Gosto do da Metodista, de São Bernardo, sob a coordenação do Alberto Rigollo, a quem eu admiro e vou ouvir muito neste começo de trabalho. É um trabalho integrado e com a presença de psicólogos em todas as categorias, o que considero muito importante. Hoje, por exemplo, um menino de 20 anos da seleção adulta nunca teve um trabalho como este, e provavelmente teria uma resistência se lhe fosse apresentado. Se começarmos isso aos 13, 14 anos, no entanto, teríamos uma geração completamente mapeada, com suas características, deficiências, medos e pontos fortes. Pretendo, também, avalizar a escola de técnicos. A modalidade precisa se abrir mais. O técnico campeão da NBB tem que participar das mesmas clínicas que um professor escolar que quer ensinar basquete aos seus alunos. Não podemos fechar o conhecimento para nada nem ninguém. São pequenas coisas que precisamos fazer para formarmos algo bem maior e melhor. Sei que temos que trabalhar, mas estou otimista. Não adianta mais ficar esperando as coisas acontecerem. Vamos ralar para fazer do basquete uma modalidade melhor e mais competitiva.

-- Por fim, preciso fazer uma pergunta que é um pouco chata, mas é importante para acabar com rumores: por que as pessoas dizem que você possui uma agência de atletas e uma ligação estreita até demais com o Anderson Varejão?
-- Rapaz, eu não sei de onde surgem tantos boatos, mas vou explicar. Possuo um projeto social em Cerquilho, interior de São Paulo, que é gerenciado pelo meu irmão. É uma escolinha de basquete, que atende a 300 crianças e que tem cunho estritamente social. Nada mais do que isso. O Anderson Varejão está junto comigo nessa, mas não há nada mais do que isso, posso garantir. Em termos financeiros, não levo nada. Meu dinheiro, sinceramente, sempre foi conquistado jogando basquete.

15 comentários:

Anônimo disse...

Espero que as cornetas diminuam agora!!

Anônimo disse...

e o jogador DIEGO.....não há nenhuma "ajuda" na adm de sua carreira por parte do Vanderlei??

Anônimo disse...

"Comigo vai ser assim: estou aberto ao diálogo, porque acredito que neste momento o basquete não pode se privar de nenhuma idéia. Nenhuma mesmo!"
"As categorias de base, por exemplo, quase não participam mais de Mundiais, e quando participam têm dificuldades. Quando isso acontece, alguma coisa precisa ser feita, não?"

O primeiro passo para a mudança e o conhecimento dos erros. Tomara, por Deus e pelo basquete, que a vontade que ele demonstra no discurso seja aplicada à pratica.

fábio balassiano disse...

anônimo, respeito o seu comentário de verdade, mas digo uma coisa a você, e digo sem ter procuração alguma do vanderlei, a quem pouco conheço.

- se vc escreve uma coisa dessas, prove, por favor. terei o maior prazer em divulgar caso seja verdade. mas seja bem calcado, documentado, ok?

- por que o seu comentário de um assunto tão sério vem em forma de anônimo? não faz o menor sentido.

- este blog prima por ser crítico, nervoso, raivoso mesmo, e gosto dessa "tensão" nos meus leitores, dessa indignação pulsante. mas não consigo tentar ver "pêlo" em ovo de uma coisa que até agora não foi provada, me entende? eu, ao menos, tive a coragem de perguntar um assunto delicado ao vanderlei, e ele me deu a resposta que julgo ser a mais sincera e honesta.

vc me entende? estou à disposição, ok?

um abraço educado, fábio balassiano.

Anônimo disse...

Ele é um pouco despreparado, em uma outra entrevista que eu li, ele disse que precisava uniformizar a base, especialmente as nomenclaturas. Mas, o que ele queria uniformizar são coisas diferentes, como: corta-luz, bloqueio e pick'n'roll.

Ele disse que em cada lugar do Brasil chamam de um nome, mas é claro que isso deve acontecer, pois são três coisas distintas.

peter schiling disse...

Parabéns pela entrevista, Bala. Ficou muito boa. Como eu disse anteriormente, não conheço o Vanderlei, mas já gostei do fato de se mostrar aberto para o diálogo e de estar pronto para enfrentar futuros tropeços e trabalhar no que já está errado.

leo aracaju disse...

Gostei da entrevista. Vamos ver se vai para prática. Tomara.

Anônimo disse...

Eu queria ver o entrevistado dar uma palestra sobre DEFESA...seria intrigante....hahaha

Anônimo disse...

BRUNO

Tenho boa imprensão sobre o Vanderlei,me parece melhor preparado do que a Hortencia no aspecto gestão,embora em Marketing ela vai sempre ganhar disparado.
Não sei porque as abordagens de carater técnico com o Vanderlei,ele vai ser DIRETOR,OU E COORDENADOR TÉCNICO.Se for a segunda hipóte vejo um total despreparo,como Diretor vejo uma pessoa equilibrada, responsável, e com bom transito no meio.

Anônimo disse...

Esta parte é a mais importante pra mim:

"A modalidade precisa se abrir mais. O técnico campeão da NBB tem que participar das mesmas clínicas que um professor escolar que quer ensinar basquete aos seus alunos. Não podemos fechar o conhecimento para nada nem ninguém. São pequenas coisas que precisamos fazer para formarmos algo bem maior e melhor." -> Vanderlei

Pra mim, se isso ocorrer, é um passo muito interessante e importante para o crescimento do jogo na escolas e nos locais que não tem clubes ricos e com recursos.

Na torcida por ele.

Leonardo Rodrigues disse...

Acho que no basquete temos que cornetar menos e trabalhar mais, o Vanderlei é jovem, assume que precisa se qualificar e pretende investir nessa qualificação, no entanto demonstra estar aberto a modificações na estrutura do nosso basquete e o mais importante, aberto ao diálogo.

Exaltamos a organização argentina, a forma de trabalho unificado, que faz com que as seleções de base que determina uma filosofia única, filosofia argentina de se jogar basquete. Acho que foi o que o Vanderlei quis dizer em relação as categorias de base.

Estou na torcida por ele e por Hortência.

mayrink12 disse...

Era isso que faltava no basquete, alguem pra dar a cara pra bater. Não que ele mereça tomar uma tapa, mas mostrou iniciativa, coragem e ta de peito aberto como ele mesmo disse na entrevista. Parabens ai pela entrevista Bala

Morais disse...

Entrevista interessante e aparentemente sincera embora muito curta para uma função tão complexa.. Obrigatoriedade de cursos p tecnicos é otima ideia. Continuo bastante desconfiado dele, mas acho que podemos ficar a espera de algummas mudanças. Esse é meu voto de confiança. Apos a Copa America veremos o que vai acontecer.

fábio balassiano disse...

Oi, Morais, obrigado pela sua análise da entrevista.
concordo que devemos esperar um pouco do vanderlei mesmo.

sobre a entrevista ser curta, o erro é meu mesmo. gosto de textos longos, mas acho que a galera, de um modo geral, não aprova isso. por isso eu às vezes abuso, mas tendo a não repetir o erro para não perder a mão de vez. o melk e o rodrigo alves, dois dos bons gurus da área, devem concordar comigo.

mas a sua sugestão está anotada. aguarde novas entrevistas, maiores e mais completas.
obrigado pela força, fábio balassiano.

Anônimo disse...

Gente, é disso que precisamos, de sangue novo e coração basqueteiro. Vanderlei deverá ter personalidade para fazer as mudanças necessárias. Ouvi comentários positivos sobre as mudanças no Sul, onde o RS tem hoje uma administração de ex-jogadores, Gilson e Thunm, que estão iniciando um belo trabalho.