
Luiz Claudio Tarallo é um dos mais contestados técnicos de seleções do país. Por isso o blog decidiu escutá-lo em uma conversa franca e dura após o título nos Jogos Sul-Americanos. Tarallo falou sobre a competição, sobre as meninas que estão surgindo e, claro, sobre as críticas que sofre.
BALA NA CESTA: Como foi o torneio de um modo geral, e a final contra a Argentina em particular?
LUIZ CLAUDIO TARALLO: As equipes já se conheciam da Sub-17 e com isso todas se prepararam melhor para esta competição. O Brasil também mudou com a vinda de três jogadoras que não haviam participado no ano passado (Tássia, Joice e Milena). Na primeira fase não tivemos grandes problemas com Equador e Venezuela, mas contra a Colômbia foi um teste muito bom para as meninas, que jogaram diante de uma torcida de aproximadamente 7.000 pessoas – muito importante para o crescimento delas. Na semifinal contra o Chile, a equipe conseguiu superar as dificuldades encontradas – as chilenas evoluíram muito desde os amistosos no Brasil, perdendo por uma diferença de 17 pontos para nós e de 11 para a Argentina. Para a final contra a Argentina, estudamos demais a equipe delas, procurando anular seus grandes diferenciais - o arremesso de três pontos e o jogo cadenciado. Além disso, realizamos uma forte marcação nas principais jogadoras.

-- Muita gente, inclusive eu, lhe critica muito por conta dos seus resultados passados (o Mundial Sub-19 não foi muito bom). Este título vem em boa hora, não? Alguma coisa em seu método de trabalho mudou? Fica ainda uma outra pergunta: como é seu método de estudo, análise das atletas e dos adversários?
-- Creio que as críticas aconteçam pelo fato de não conhecerem realmente os resultados passados e também pela distância no acompanhamento do trabalho. Não consigo entender uma crítica baseada somente em estatísticas ou pelo fato de escutar uma ou outra pessoa. A pergunta citou o Mundial Sub-19 sem saber o que aconteceu na preparação, sem analisar se a participação na Lusofonia foi importante, se a equipe teve problemas de lesão, de saúde ou de adaptação. Enfim, não estiveram presentes para saber se o nível das demais equipes era próximo ao do Brasil. Apenas analisaram o placar final. O título sempre é bom e vem em boa hora, mas não mudei a maneira de pensar sobre o basquete e nem a metodologia, embora sempre estejamos adaptando a filosofia e a estratégia de jogo em função das jogadoras presentes na seleção e nas adversárias da competição em questão.
(Neste momento, Tarallo começa a citar o seu currículo, que você encontra aqui). Sobre meu modo de trabalho: procuro sempre acompanhar tudo de novo em termos de métodos defensivos e ofensivos, sobre as diferentes escolas de basquete, além de livros, artigos e jogos nacionais e internacionais. Sobre as atletas, procuro sempre observá-las acompanhando os jogos e conversando com outros técnicos. Sobre os campeonatos brasileiros, temos o acompanhamento, hoje, da Janeth, que analisa e indica atletas de outros estados.

-- De todo modo, o título não é o máximo de vocês neste ano, já que há a Copa América em junho. Quais as expectativas para a competição, e quais os erros cometidos na Colômbia que precisarão ser corrigidos até lá?
-- Realmente o objetivo principal este ano é a Copa América. Estamos numa chave difícil, já que temos que disputar duas vagas contra EUA, Argentina e Porto Rico. Sabemos das dificuldades, estamos trabalhando muito forte e a CBB não está medindo esforços para proporcionar uma ótima preparação para a Copa América (
Tarallo, aí, cita as duas fases de treinamento, os amistosos contra o Chile, o intercâmbio em Las Vegas e outros amistosos antes da competição). Vamos trabalhar para surpreender os adversários, para aprimorar e evoluir ainda mais o sistema ofensivo e acrescentar mais variações defensivas, já que um dos adversários é a Argentina e com certeza ela também estará nos estudando.

-- Esta geração parece estar desenhando o surgimento de três grandes atletas para o Brasil: Damiris, Tássia e Joice. Você poderia falar um pouco dela, e até onde elas podem chegar?
-- Realmente são três grandes jogadoras que estão surgindo, muito fundamentadas e que estão evoluindo a cada ano. Por serem novas, precisam continuar se esforçando nos treinamentos e jogos, mas acredito muito que em breve já estarão representando o Brasil na seleção principal.