
Tímido ao extremo, Pat Conroy, autor do aclamado "O Príncipe das Mares", começou a praticar esportes para se comunicar com o pai, um violento ex-fuzileiro naval. O mais velho dos sete filhos de Donald e Peggy tentou o baseball e o futebol americano nos campos de plantação de algodão em Atlanta antes de rumar para o basquete. Com menos de 1,80m fez da perseverança e do comprometimento os seus maiores aliados para permanecer no Citadel Bulldogs, time da rigorosa academia militar de Charleston, Carolina do Sul.
Conroy escolheu o basquete como tema de livro para relembrar o momento mais marcante de sua vida – a passagem para a idade adulta. A obra, lançada nos Estados Unidos em 2002, chegou ao Brasil apenas em 2006, editada pela Record com o título de
“A última temporada” (o nome em inglês é “The Losing Season”), dica do
'Basquete é cultura' dessa semana.
Emocionante, o livro retrata a temporada 1966-1967 do medíocre time de Citadel. No último ano de faculdade, Conroy, o armador titular, dividia seu tempo entre a sua graduação (Pat se formou em Literatura Inglesa) e os treinamentos nos times de basquete e baseball. Em uma das viagens finais com o elenco de baseball, o treinador Chal Port perguntou a seus jogadores veteranos sobre o futuro profissional. “Serei escritor”, disse Conroy. Após o riso e desdém de Chal, Pat abaixou a cabeça e sussurrou: “Vou escrever livros”. Não menos obtuso foi seu técnico de basquete, o rude e rígido Mel Thompson, que acusou John DeBroose, o “craque” do time, de errar propositalmente o arremesso final em uma partida decisiva.
Como Conroy relata, ele deve a Citadel, onde morou entre 1963 e 1967, o aprendizado maior do sentido da vida. Além disso, as noções de ética e esportividade permearam a sua carreira de escritor – “o basquete me forçou a fazer frente as minhas deficiências e meus terrores sem espaço para tolerância ou evasão”, página 11. Há exatos 38 anos, depois de 25 jogos, apenas oito vitórias e uma dolorosa despedida contra Richmond nas quartas de final do torneio regional (derrota por apenas um ponto), Pat desligava-se do basquete para se dedicar exclusivamente a literatura.
A leitura de
“A última temporada”,

cujo nome parece com o título lançado por Phil Jackson, é uma aula de dedicação e amor ao basquete. A comparação entre o amadorismo (da palavra amor) de Conroy é um contraste ao profissionalismo exacerbado deste início de século.
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Lição: Na página 23, uma lição: “Ganhar é maravilhoso em qualquer aspecto, mas a música mais obscura da derrota ressoa em planos mais profundos, mais ricos. (...) Ganhar faz você pensar que pode conquistar a garota, conseguir o emprego (...) e você se acostuma com uma vida de preces atendidas. A vitória modela a alma. (...) A derrota é uma professora mais feroz e intransigente, de coração frio, mas de visão clara na sua compreensão de que a vida é mais dilema do que jogo, mais provocação do que passe livre. (...) Embora eu aprendesse algumas coisas dos jogos que vencemos naquele ano, aprendi muito mais com a derrota”.
Disciplina:Na 11, Conroy dá um exemplo aos mais jovens: “Durante anos, eu tentaria fazer 300 arremessos por dia para corrigir minha fraqueza como arremessador de longa distância. Nunca em minha vida deixei a quadra sem praticar meu último arremesso. Não era uma superstição; era uma disciplina”.