
Você pode nunca ter ouvido falar de Fabrício Paulino de Melo, mas quase todos os técnicos universitários dos EUA sonhavam com o menino há seis meses. Com 19 anos e 2,12m de altura, o pivô mineiro começou a sua carreira no Projeto Basquetebol do Futuro de Juiz de Fora com o técnico José Ricardo. Logo depois seguiu para o Olímpico Clube, em Belo Horizonte, onde foi convocado para a seleção mineira logo em seu primeiro ano. Depois, só sucesso: seleção mineira infanto-juvenil e juvenil, seleção brasileira que foi ao Sul-Americano do Uruguai e muito mais. Foi aí que em um treinador americano viu o rapaz e, pronto, a procura por Fabricio, ou Fab Melo, como agora é conhecido por lá, virou uma loucura. Jogando agora pelo Weston Sagemont College (na Flórida), ele é a principal arma do técnico Adam Ross para a temporada colegial que começou há uma semana, e o principal monitorado de Jim Boeheim, treinador da Universidade de Syracuse, que recrutou o brasileiro para 2010. Por isso, a seção
“Muito Prazer” decidiu saber quem é esse jogador que tem tudo para brilhar nas quadras de todo o mundo.
BALA NA CESTA: Quem é o jogador Fabrício de Melo, ou Fab Melo? Quem é este jovem que atuará por uma das mais conhecidas faculdades dos EUA?
FAB MELO: Sou um pivô versátil, podendo jogar na posição 4 (ala-pivô) e 5 (pivô). Tenho um bom drible para minha altura e um bom arremesso. Aqui (nos EUA) eu trabalho em tudo, e trabalho duro, mas na minha opinião acho que tenho que melhorar muito na minha defesa. Muitos técnicos dizem que meu estilo é parecido com o de Andrew Bynum, pivô do Lakers.
-- Você irá jogar por Syracuse na próxima temporada depois de uma longa disputa pelos seus serviços. Como foi esta escolha, e como é, para você, ter sido tão assediado? Você era o quinto no ranking do Scout.com e Rivals.com, dois dos mais respeitados sites dos EUA.
-- Logo quando cheguei aos EUA eu não sabia muito a diferença das escolas e conferências por aqui. Com o tempo, fui aprendendo e descobrindo o nível delas. Várias escolas vieram me recrutar, mas reduzi a lista para cinco. Depois visitei as instalações, e analisei os pontos positivos e negativos de cada uma. Syracuse foi a universidade que mais gostei, e me senti bem com os treinadores de lá. Os ranquemantos que você mencionou são fruto do trabalho forte que venho fazendo desde que cheguei aqui. Mas não me preocupo com isso: só quero treinar e melhorar a cada dia.

-- Como foi o convite do Jim Boeheim para atuar em Syracuse? Como é o acompanhamento que a universidade faz contigo antes de você, propriamente, ser jogador deles?
-- Primeiro o Jim Boeheim e um dos seus assistentes vieram ver um treino da minha escola. A partir daí, começaram a me acompanhar mais de perto, seguindo os jogos e torneios. Em agosto falei pro Coach Boeheim que tinha intenção de ir pra Syracuse ano que vem, e mês passado assinei oficialmente com eles.
-- Como é seu relacionamento com o Jim? Ele é bem exigente, mas ao mesmo tempo dizem que é um dos que mais sabem fazer atletas evoluírem. Já deu para sentir alguma coisa?
-- Tenho um contato com ele e com os assistentes de Syracuse quase toda semana. Eles me perguntam como estão meus jogos e como estou me saindo por aqui na escola. Eles me apóiam muito e só espero coisas boas quando começar a jogar lá ano que vem.

-- Com pouco mais de um ano nos EUA, você consegue identificar as maiores diferenças de estrutura e treinamento em relação ao basquete brasileiro? O “choque” foi muito grande quando você chegou aí?
-- Quando cheguei estava curioso pra ver a diferença. Aqui você tem uma pré-temporada que te prepara fisicamente para a temporada. Treinamentos não só de musculação, mas de salto, corrida, velocidade, entre outras coisas. Percebi uma diferença grande no meu corpo em pouco tempo. Outro ponto é o verão aqui. Participei de alguns “camps” e de vários torneios de AAU (Amateur Athletic Union, rede que organiza eventos de desenvolvimento para jovens talentos). Os torneios de AAU te dão muita experiência e muita oportunidade de jogar. Eu acho que entre junho e julho devo ter feito uns 40 jogos e todos contra atletas de alto nível. Foi cansativo, mas ajudou muito meu basquete.

-- Outro dia estive lendo em um site de Syracuse que algumas faculdades gostam de prospectar alas, outras preferem os armadores, mas que uma coisa era certa: em Syracuse, o que eles gostam de escolher mesmo são jogadores com apelido de Melo, uma referência a você e ao Carmelo Anthony, craque do Denver Nuggets e que foi campeão universitário há algumas temporadas. Já pensou nisso?
-- Depois que anunciei minha intenção de jogar em Syracuse, foram publicadas varias matérias sobre meu sobrenome, falando que seria o segundo ‘Melo’ a jogar lá, o ‘Melo 2.0’ (risos). O Carmelo teve uma carreira incrível em Syracuse, e hoje é um dos jogadores de ponta da NBA. Quem sabe o nome Melo não me dá sorte também, né (risos).
-- Você faz parte de uma geração de jogadores que sai muito cedo do país para ir aos EUA e, possivelmente, depois para a NBA. Foi assim com o Tiago, Anderson, Tavernari e alguns outros. Como fica o sentimento para atuar com a camisa da seleção brasileira? Ele ainda bate forte? E atuar na NBA, faz parte de seus objetivos também?

-- Sempre que eu puder, quero jogar pela seleção brasileira e representar o Brasil no basquete mundial. O fato de eu estar estudando e jogando aqui nos EUA nao muda isso. Eu tenho objetivos profissionais de jogar na NBA, mas isso vai lado a lado com meu objetivo de jogar pela seleção.
-- Se você pudesse escolher como será o seu futuro no basquete daqui a cinco ou dez anos, como seria?
-- Olimpíadas de 2012, Mundial 2014, Olimpíadas 2016, Mundial 2018, 15 anos de NBA, e sonho me aposentar no Flamengo jogando futebol. Saudações rubro-negras (risos)!