
O esquema de treinos da seleção brasileira é claro: a imprensa entra nos primeiros cinco minutos e só volta nosdez minutos finais. É o estilo de Rubén Magnano, e não dá muito para contestar um campeão olímpico (na NBA, isso é muito comum também, diga-se de passagem). Na parte derradeira, porém, foi possível ver o argentino, na roda final com os atletas, falar: "É na defesa que se ganha esse jogo, é na defesa. Não são os tiros de três pontos que vão levar o Brasil ao título mundial. É a defesa! Vocês estão ouvindo?". E os jogadores balançavam a cabeça, ouvindo e assimilando o que o treinador dizia. Foi depois disso que o Bala na Cesta, ao lado do amigo
Rodrigo Alves (do Rebote), conversou com um Magnano totalmente sorridente e afável.
BALA NA CESTA: Como foi esta primeira semana? Pelo que vimos nos últimos minutos de treino, a defesa é seu principal desafio aqui, não?
RUBÉN MAGNANO: Nestes primeiros dias vi um alto comprometimento e uma excelente atitude dos atletas. É óbvio que falta trabalho tático, técnico, mas isso vem com o tempo. Com este espírito, podemos ir longe, estou seguro disso. Sobre a defesa, eu sinceramente acho que é impossível vencer em nível internacional sem uma retaguarda forte. E os jogadores sabem disso. Além disso, minha ideia de basquete passa muito por um setor defensivo forte, bem armado.

-- Você tem visto o movimento dos outros times, certo? Os EUA perderam muitos atletas, a Argentina vem sem Ginóbili, a Alemanha não terá o Dirk Nowitzki. A tarefa da seleção brasileira fica menos difícil para trazer uma medalha?
-- Eu jamais me permito pensar assim. A melhor equipe é aquela que possui todos os atletas interessados, independente de valores. O pior que pode acontecer para um time é ter grandes nomes, e pequeno comprometimento.
-- Você já treinou alguma equipe em que este nível de comprometimento tenha sido baixo?
-- Não, eu não permito que isso aconteça. Comigo, ou o jogador está de corpo e alma nos treinos, na concentração, nos jogos e nas palestras, ou está fora. E acho que esse grupo assimila isso muito bem.

-- Houve técnico da seleção brasileira que tinha uma planilha com dados de como queria ver a seleção (neste momento, Magnano levanta a sobrancelha e se mostra surpreso). Exemplo: 100 touches, 16 erros por jogo etc. . Você possui uma idéia de como quer ver o seu time?
-- Olha, eu não sou estatístico, eu sou técnico. Nunca fiz uma planilha dessas, simplesmente porque não proíbo meus jogadores de nada. Se uma partida diz que temos que atirar 20 bolas de três pontos, vamos atirar. Mas com responsabilidade. Meus atletas entram em quadra sabendo o que fazer – eu não preciso ficar monitorando-os com números.
-- Você já pensou em como montar o seu garrafão com Splitter, Nenê e Varejão? Jogar com os três é impossível para você?
-- Impossível é uma palavra que eu não uso, mas digo a você que esta possibilidade é bastante difícil. Não sei o que vou fazer, e nunca digo aos meus atletas quem serão os cinco titulares. Além disso, se você for lembrar, o Luis Scola, em 2004, vinha do banco, e foi tão decisivo quanto o Manu Ginóbili nas Olimpíadas de 2004. No basquete, existem os que iniciam os jogos, e aqueles que terminam. É assim que penso.

-- Como estão os meninos que foram integrados à seleção (Raulzinho, Jordan e agora o Lucas Bebê)?
-- Olha, eles já estão totalmente integrados ao grupo. Nos treinos, trato a todos igualmente. Acho que esta é uma experiência espetacular para eles, que estão ao lado de atletas consagrados e experientes, e espero que sirva de trampolim para seus futuros na seleção adulta. Não espero, sinceramente, que fique por isso mesmo. O Raulzinho e o Bebê foram muito bem com a seleção sub-18, e o Jordan eu já conhecia do Sevilla. São meninos de muito futuro, e minha impressão deles é bem positiva.