O vôo do Memphis

Não resta dúvida de que a grande Cinderela deste playoff é o Memphis Grizzlies. Depois de ter despachado o San Antonio Spurs em seis jogos, o time entrou em quadra ontem e mandou 114-101 no Oklahoma (maior número de pontos que os Thunder levaram em 12 jogos de playoff na história da franquia). Zach Randolph é o cara, Marc Gasol (foto) cresceu horrores (a dupla tem, na pós-temporada, a média de 35,7 pontos e 21,5 rebotes), Mike Conley está maduro pacas e Tony Allen e Shane Battier marcam como uns loucos, mas é importante não tirar os méritos de Lionel Hollins, campeão com o Portland na década de 70 como jogador (para quem gosta de literatura, ele foi personagem do melhor livro de basquete que já li, o "The Breaks of the Game") e técnico do jovem elenco. Lembrando que os Grizzlies igualaram a marca dos Knicks de 1999, que bateram o número 1 e venceram fora de casa na abertura das semifinais de conferência (e os nova-iorquinos chegaram à final naquele ano).

Contra os texanos, o time fechou as linhas de passe, deu show nas coberturas do lado contrário (média de 7,3 roubadas no confronto), deixou Zach Randolph "descansar" contra Bonner, McDyess ou Splitter na defesa (todo mundo viu o que Zach fez no ataque, certo?) e mandou Marc Gasol colar em Tim Duncan. Ao San Antonio não restou nada que não os chutes de três pontos, que não caíram (a média da temporada de 39,7%, a melhor da liga, despencou para 29,4%). No garrafão, o irmão não soft dos Gasol levou Tim Duncan à loucura e às piores médias de sua carreira em playoff - 12,7 pontos e 47,8% nos chutes. Os pontos diminuíram (de 103,6 para 94,3) e a eliminação veio.

Contra o Oklahoma, a estratégia foi invertida. Sabendo que a força dos rivais estava fora e que os pivôs só "começavam" a jogar apenas depois dos picks e das rotações geradas por eles (nada de passes diretos), Hollins (foto à direita) "puxou" o bloqueio de corta-luzes para "cima" do garrafão, complicando as infiltrações de Russell Westbrook no começo das jogadas (sete erros para o ótimo armador ontem) e exigindo que Perkins duelasse contra Gasol ou Randolph perto da cesta (e aí a falta de confiaça do pivô foi nítida para decidir). O único senão desta tática é que ela acaba fazendo com que uma de suas torres saia demais de perto da cesta, e aí os rebotes ofensivos rivais aparecem (ontem foram 16). No ataque, Hollins chamou jogadas de um-contra-um de Zach Randolph contra Serge Ibaka (a força física deste não intimida a técnica daquele) e deu certo (Zach se saiu com 34 para começar a série). Além disso, a transição defensiva novamente funcionou maravilhosamente bem (saíram apenas 11 pontos dos Thunder em contra-ataque - diante do Denver, a média foi de 21,4, quase o dobro) e Marc Gasol despejou 20 pontos e 13 rebotes.

Repito, em relação ao Memphis, o que disse no Twitter após a derrota do Boston ontem contra o Miami Heat, na Flórida: foi apenas o jogo 1, e muita coisa precisa ser jogada ainda. Mas os Grizzlies são atléticos, jovens, possuem um plano de jogo que é seguido absurdamente bem pelo time (além disso, o banco funciona bem pacas com Mayo, Vazquez e Darrell Arthur principalmente) e podem complicar a vida de Kevin Durant e dos Thunder. O duelo desta terça-feira em Oklahoma é absolutamente crucial e vale lembrar que em casa os Grizzlies venceram 11 das últimas 12 partidas.