Érika de Souza, a melhor pivô brasileira da atualidade, nunca foi profeta, mas já previra o sucesso que teria. Uma de suas vinte tatuagens (ela ainda quer mais duas!) é uma estrela, gravada em sua orelha há cerca de dez anos quando ainda jogava em Guarulhos. De Guarulhos até Atlanta (onde atua pelo Dream), muita coisa se passou. Mundial, Olimpíada, título na WNBA, título na Espanha, título na Hungria, título no Brasil, título em tudo quanto é canto. Uma coisa, porém, Érika ainda não tinha ouvido: que ela era uma estrela da liga norte-americana. Convocada para o All-Star Game deste sábado, a carioca de 27 anos, líder em rebotes do torneio, desembarca neste final de semana em Connecticut para se tornar a segunda brasileira a atuar no Jogo das Estrelas e realizar aquilo que sua tatuagem já lhe havia confessado ao pé do ouvido: ela é, sim, uma estrela do basquete mundial. Antes da partida ela conversou com o
Bala na Cesta por email.
BALA NA CESTA: Érika, você é a segunda brasileira convocada para o All-Star Game (Janeth foi a primeira). Aonde você recebeu a notícia, como foi a sua reação e qual a expectativa para a partida?
ÉRIKA: Estava no ônibus da equipe às oito da manhã saindo de Nova Iorque e indo para Detroit quando a minha técnica (Marynell Meadors) deu a notícia. Na verdade esperava ter a possibilidade de ser chamada, mas sabia que seria muito complicado. Foi uma emoção muito grande, e confesso que a ficha está caindo aos poucos. Acho que só vou entender mesmo quando chegar lá.
-- Você encontrará, no All-Star, a Lisa Leslie, com quem jogou em Los Angeles em 2002. Vocês ainda mantêm contato? Você a admira muito, não?
-- A Lisa pra mim é uma referência. Na verdade sempre foi a pessoa que me espelhei para ir cada vez mais longe. Uma atleta sempre tem que ter um ídolo, mesmo que esse ídolo jogue contra você às vezes (risos). Na verdade não sei como ela estará por lá porque tem tido algumas contusões durante o ano, mas de qualquer forma sempre adoro conversar um pouco com ela. Não temos contato durante o campeonato, porque aqui tudo acontece muito rápido e não temos tempo de fazer outra coisa se não treinar, jogar e viajar. As conversas com as amigas sempre acontecem no dia anterior aos jogos, quando chegamos nas cidades e podemos jantar juntas.
-- Você é a líder da WNBA em rebotes. Seu time também registra campanha melhor que a da temporada passada (7-10). Além disso, você foi campeã espanhola e tem a sua melhor média de pontos na liga americana (11,5). É o melhor momento de sua carreira?
-- Se não é o melhor, é um dos melhores. Estou muito bem mesmo, confiante. É aquela coisa de estar no time certo, na hora certa e dando o melhor de si mesma. Tenho certeza de que quando temos um resultado tão positivo assim, é porque o trabalho individual e de equipe são grandes - não se conquista nada sozinha. Espero também dar meu melhor para a seleção. Quero muito conquistar esses prêmios lutando pelo meu país também.
-- Érika, o momento do basquete feminino do Brasil inspira cuidados. A seleção foi mal em Pequim, o grupo é jovem e a Copa América bate na porta. O que você tem pensado a respeito? Você virá jogar? Hortência ou Paulo Bassul já lhe procuraram?
-- Eu tenho interesse em jogar, sim. Já tive muitos problemas com a seleção, mas não há motivos para não confiar nesse trabalho que está sendo feito agora. Estou na WNBA e é nisso que preciso estar focada nos dias de hoje, mas aparecendo a oportunidade de jogar pelo Brasil não tenha dúvida que farei as minhas malas na mesma hora porque sinto muita falta disso. A Hortência me procurou uma vez por email, mas ainda não discutimos nada em relação a apresentação. Vamos ver como será.
-- Você é apontada pela crítica especializada como peça fundamental para este time em reconstrução. O que acha disso? Está preparada para assumir este papel de liderança?
-- Não li nada a respeito, mas tudo que for possível fazer dentro e fora de quadra pelos times que estou defendendo e pelo Brasil eu farei. Carisma e liderança são natos, e posso desenvolver isso, mas ao mesmo tempo acho que tudo vem naturalmente, como está sendo agora. Se puder reverter isso tudo para ajudar a levar de novo o nosso país ao topo como a própria Hortência fez, seria perfeito.